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José Vinícius de Araújo Figueiredo

1955 - 2020

Sua voz alta era inconfundível, assim como o som do motor de seu fusca quando juntos passeavam pela cidade.

Ele era mais conhecido pelo apelido carinhoso de Zé Vinícius. Tinha uma personalidade bem forte e por isso algumas pessoas o viam como durão. Porém, seu coração era gigante e se dedicava às pessoas que eram importantes para ele. Sua voz era conhecida por muitos na cidade: alta, grave e inconfundível, que se ouvia de longe.

Quando mais novo, Zé Vinícius foi aviador no Rio de Janeiro e gostava de ser instrutor de voo. Quando se mudou para Cachoeiras de Macacu, tornou-se administrador do sítio da família, que defendia com muita garra.

Zé era gentil, carinhoso e parceiro do jeitinho dele. Amava, respeitava e defendia a natureza. Gostava de se divertir com os amigos e se socializava com facilidade. A maior das virtudes era sua força para enfrentar as adversidades da vida.

Foi casado com Rossi, seu parceiro e amigo por quase quarenta anos. Juntos tiveram uma filha, Mariana. Zé Vinícius podia estar fisicamente distante de alguns familiares, mas preocupava-se muito com todos e os tinha com enorme carinho no coração. Não demonstrava seu amor com palavras, mas com ações, estando por perto quando necessário e presente nos momentos mais importantes dos familiares e amigos.

Amava ficar em casa, em meio a natureza, e realmente sentia-se feliz morando no sítio. Por conta disso, estressava-se com facilidade quando de alguma forma violavam seu espaço ou agrediam o meio ambiente. Nas horas livres, gostava de cuidar de animais e de estar na beira da piscina, bebendo e ouvindo música junto com seu companheiro. Suas paixões eram seu parceiro de vida, sua filha, seu lar, amigos e os animais de estimação.

A filha Mariana relata que seus pais sempre contavam histórias de quando se conheceram, num Carnaval, desfilando no sambódromo. Contavam com tantos detalhes, que ela via tudo na mente enquanto falavam. “Papai gostava muito de beber e receber as pessoas próximas a ele em casa. Nas festas ele dançava de forma descontraída, até se machucava, às vezes, por fazer estripulias demais!", diz Mariana, achando graça.

"Ele não era de demonstrar o amor com palavras, mas sim com gestos. Ao longo da minha vida papai foi o que esteve mais presente no meu dia a dia. Era ele quem me levava para a escola, pra passear, que arrumava meu cabelo, que me acompanhava nos concursos que prestei, e sempre me apoiou e cobrou o meu melhor em tudo que fiz. Papai era como uma fortaleza para mim e tenho orgulho de ouvir hoje em dia que carrego muitos traços da personalidade dele."

"Meus dois pais construíram uma relação de muito companheirismo. Eles se amavam e cuidavam um do outro com total entrega, apesar das diferenças de personalidade. Eu sempre admirei o amor deles, as brincadeiras, o afeto, e espero um dia poder ter alguém ao meu lado que cuide de mim da forma como eles cuidaram um do outro durante todos esses anos. A relação com a minha mãe, que era amiga dele, era um pouco mais intensa porque ambos eram taurinos teimosos. Viviam se estressando com as manias um do outro", diverte-se Mariana. "Mas havia muito carinho e gratidão também. Ele se preocupava com o nosso bem-estar, a nossa saúde e a nossa felicidade como nenhuma outra pessoa poderia fazer”.

Além de gostar de viajar para rever seus familiares, Zé Vinícius tinha prazer em assistir televisão aos domingos, à noite, com a filha e o companheiro, momentos em que riam muito juntos. Pai presente, fazia questão de comparecer nos momentos especiais de sua filha: na formatura da escola, em todos os aniversários, na iniciação religiosa e até mesmo quando ela teve o coração partido pela primeira vez — momento esse em que foi muito importante para Mariana ter a presença e o apoio do pai.

Mariana diz que todos os momentos ao lado de José Vinícius foram especiais e únicos. Como aquele em seu aniversário de 17 anos: "A festa foi em casa e tinha um espaço com música onde eu e meus amigos estávamos dançando. Depois de beber um pouco, meu pai resolveu vir dançar conosco. Fizemos uma roda em volta dele e ele dançava muito, rindo e se divertindo. Meus amigos diziam que ele era incrível”.

José Vinícius foi um homem que definitivamente marcou as pessoas com quem conviveu. Por onde passava, deixava um pouco de si e era lembrado. Ele e seu fusca andavam pela cidade quase que diariamente, a ponto de os conhecidos reconhecerem o som do motor do carro. Era uma pessoa incrível, muito amigo, divertido, forte, amoroso, inteligente e um exemplo para quem o conheceu. Por vezes, era incompreendido. Mas ele foi e sempre será luz. Será lembrado com amor e alegria por toda a sua força e presença, eternamente.

José nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Nova Friburgo (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de José, Mariana Almeda. Este tributo foi apurado por Claudia Saviolo, editado por Karina Zeferino, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 11 de março de 2022.