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Joselene de Fátima Carneiro Pereira

1960 - 2020

Era tão apaixonada pelo Flamengo que, se tivesse jogo quarta-feira, ela é que não ia fazer o jantar.

Junto com o rubro-negro carioca, a família era um grande amor de Joselene. Uma mãezona que gerou seis filhos, mas também foi porto seguro e ajudou a criar os irmãos mais novos, muitos sobrinhos e os dez netos. Todos perderam a grande referência de vida. Inconsolável ficou também o companheiro e grande amor, Jorge, com quem foi casada por quarenta e três anos.

Mesmo sem formação acadêmica, Leninha, como gostava de ser chamada, se formou em vivência e virou mestre em cuidados. A qualquer mal-estar, era para ela que ligavam. Essa preocupação, seguiu até o último momento. Mesmo internada, manteve-se preocupada com a saúde do marido e dos filhos, e sorriu aliviada ao saber que todos estavam bem. Mais um ato de amor e dedicação total, sua marca registrada.

Sempre alegre, era muito apaixonada pelo pitbull que criava. Também era na casa dela, entre as outras cinco do mesmo lote, que aconteciam os encontros da família. Um churrasquinho com cerveja a fazia muito feliz, mas ela só comia depois de ter certeza de que todos estavam bem alimentados.

Nascida e criada no Rio de Janeiro, foi na capital carioca que ela conheceu um outro grande amor. Viciada no Flamengo, não perdia um jogo, e estava sempre vestida com a camiseta antiga, considerada manto sagrado e de sorte. “Quem vai pagar a cerveja?”, perguntava sempre antes de uma partida. Era muito grito de gol - e crítica também, afinal, sabia tudo sobre futebol e conhecia cada jogador! A sementinha da paixão pelo clube foi plantada e segue viva entre os familiares.

A última mensagem, que ficou por escrito, seria endereçada aos filhos. “Oi, meus amores”. Não foi enviada pelo aplicativo, mas a demonstração de carinho fica eternizada pelas memórias nos corações de cada um que pôde aproveitar a companhia de Leninha em vida. Ela amou muito a todos. E foi infinitamente amada também.

Joselene nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 60 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Joselene, Adriany Carneiro Pereira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mariana Campolina Durães, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 25 de outubro de 2020.