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Josias José Freire

1952 - 2022

Orgulhava-se em rezar a Ave Maria em francês.

Ele era de origem camponesa, e gostava de recitar frases e ditos do latim ao tupi-guarani. Ficou conhecido em sua comunidade como o homem que criou sozinho os seis filhos. As crianças, entre 3 e 15 anos de idade, ficaram aos cuidados do pai após sua separação.

Era um homem religioso, que professava a fé católica e devoto de Nossa Senhora. Orgulhava-se de saber rezar a Ave Maria em francês. Costumava dizer que Deus falava com ele por intermédio das plantas, que eram um hobby seu. Ele realmente levava muito jeito com as plantas e não poderia ser diferente, com a companhia divina ao seu lado no trabalho de jardinagem.

Seguiu carreira militar da qual tinha muito orgulho. E foi aí que ele teve um primeiro contato com as artes marciais, uma de suas grandes paixões. Nos anos 1980 ele comprou uma coleção de revistas sobre artes marciais — uma enciclopédia em fascículos — e deviam ser mais de cem exemplares. Entre os 30 e 40 anos, já com alguns filhos, ele voltou a treinar taekwondo, numa época em que esse tipo de atividade não era tão conhecido nem acessível. Ele era bastante ligado em atividades físicas.

Guardou por toda vida o seu "dobok", o uniforme do taekwondo. Todos os filhos treinaram karatê em algum momento da vida, sob influência do pai. "Ele nos acordava cedo para correr e treinar com seus pesos feitos em casa, nos anos 1980-90". Uma das últimas mensagens que ele me mandou pelo aplicativo foi uma lembrança de quando ele treinava taekwondo", lembra o filho, Josias Júnior.

Foi um homem que buscou o conhecimento e a sabedoria. Gostava bastante de viajar. Fez curso de Teologia depois dos 60 anos. Possuía em casa uma biblioteca com vários livros, numa época em que isso poderia ser considerando um luxo. Era apreciador das ciências exatas e humanas. Gostava de matemática, literatura e história! E tem mais, apreciava como ninguém a arte da música. Quando mais jovem era bem eclético: entre as fitas K-7 e os discos de vinil, escutava desde música erudita, como Mozart e Chopin, passando pelo rock-pop internacional até as músicas sertanejas de raiz. Em seus últimos anos de vida, o que mais escutava eram as músicas religiosas.

Josias foi um homem único, sensível e forte. Nostálgico de outra época, e que via e levava a vida de um modo especial.

Josias nasceu em Itauçu (GO) e faleceu em Aparecida de Goiânia (GO), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Josias, Josias José Freire Júnior. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 7 de maio de 2022.