1962 - 2020
Apreciava muito a comida nordestina, mas só comia se fosse preparada pela esposa, Márcia.
Atuou durante a vida como motorista de ônibus. Era extremamente amoroso, atencioso, risonho e solícito, mas principalmente brincalhão. Era dedicado 100% à sua família. Uma das maiores paixões da vida dele era reunir os filhos e fazer churrasco no fim de semana. Fazia questão de preparar a carne exatamente como cada um gostava e era o melhor churrasco do mundo... quem comeu, não esquece! Mas cozinhar não era a praia dele e tinha um paladar atípico no quesito comida: amava comer pão com goiabada; batia no liquidificador cerveja preta com ovo e bebia; até oferecia, mas ninguém encarava. Além disso, fazia pimenta em conserva, com alho e cebola. Amava sopa e não importava o tempo, porém nunca era apenas sopa: colocava molho shoyu, molho de pimenta e às vezes um pouco de farinha. Se deixasse, ele comia bife com farinha às 6h da manhã e ainda ensinava os filhos a fazerem o mesmo.
E por falar em filhos, Josimar babava pelos seus e morria de ciúmes deles; ai de quem mexesse com sua prole! Teve três: Aline, Bruna e Edvan. O amor por sua esposa, Márcia, era aquele amor de adolescente, sabe... mesmo depois de trinta anos juntos, não desgrudavam e tudo faziam juntos. Andavam de mãos dadas na rua e ele tinha o costume de falar, a quem quisesse ouvir, que ele devia a vida a ela, que sem ela ele não existia. Ficaram juntos durante trinta e sete anos.
Uma das filhas, Bruna, nos diz que Josimar “Era teimoso que só, daqueles nordestinos bem cabra macho mesmo... aqueles que todo mundo acha que nunca vai mudar. Mas aí veio o primeiro neto e ele se desmanchava inteiro. Ele odiava tatuagem, até eu fazer uma e ele entender que aquilo não mudaria meu caráter. Era o maior incentivador de sonhos, não importava quais fossem; ele ajudava em tudo. Mesmo se fosse cancelar uma faculdade e começar outra 'nada a ver'”.
Amava peixe na brasa e nunca entendeu quem não comia peixe. Não confiava em qualquer um na cozinha, só na esposa. Tinha mania de limpeza, a família ficava doida com ele. Em pleno domingo, com frio ou sol, lá estava ele com a mangueira dentro de casa, jogando água para todo lado. Josimar não era de muitos amigos, mas distribuía sorrisos a todos. Uma marca dele eram as brincadeiras com os filhos: muitas vezes ele os empurrava enquanto passava pela casa, só pra arrancar sorrisos.
Bruna é quem nos conta uma dessas travessuras do pai: “Uma vez eu estava no meu quarto, conversando com uma tia minha. Papai encheu a boca de leite em pó, entrou no meu quarto, chegou bem perto e disse, cuspindo: ‘Farofa’! E o pó me sujou toda, sujou minha cama e minha tia. Ele começou a rir e eu saí correndo atrás dele pela casa. Jurei tacar um ovo na cabeça dele. Com a minha irmã era pior, ele até jogava óleo de cozinha na cabeça dela e saia correndo. Tinha mania de nos beliscar e atendia as provocações dos filhos, pois bastava um de nós pedir: ‘Papai, derruba a mãe da cama’, e lá estava ele empurrando ela; ou ‘Papai, belisca a mãe’. Aí ele chegava bem perto dela e falava: ‘Deixa, nem vai doer, depois passa’. Beliscava e corria porque sabia que ia apanhar. Ele era terrível. Falava que não podia bater nele, que era protegido pelo Estatuto do Idoso”, finaliza ela.
Josimar era muito apegado aos filhos. Quando Bruna arranjou o primeiro namorado ele disse assim: ‘Traz aqui o cidadão para eu ensinar o bê-á-bá’. Ele fez isso com todos os namorados dela. Mas também, os dois viviam grudados! Josimar era a pessoa que mais cuidava de Bruna e quem mais a incentivava. Assim que ele faleceu, Bruna fez duas tatuagens para homenagear o pai. Na do pulso, escreveu "PAPAI", que era como ela o chamava desde pequena. Na outra tatuou a seguinte frase, seguida de uma borboleta azul: “O homem mais bonito da terra, hoje é o anjo mais lindo do céu!” Ela contou que a borboleta está junto da frase pois representa o que ela sente da situação e o que ela entende ser uma borboleta: ela é mensageira dos que já se foram e simboliza ciclos, das coisas da vida que começam e terminam.
Josimar concluiu o seu ciclo e a sua história. Em tudo o que fez foi excelente e agora partiu para uma nova jornada.
Josimar nasceu em Pereiro (CE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Josimar, Bruna Cerqueira Soares. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Ozaias da Silva Rodrigues, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.