Josinéia Fogaça Alves

1975 - 2021

Trazia em sua gargalhada gostosa o som da felicidade.

Diz um ditado antigo: quem passa pela vida de outra pessoa sempre deixa um pouco de si. Esse não foi o caso de Josinéia, ou Josi, como era chamada, que deixou muito mais do que um pouco. Ela deixou tudo de si na vida dos colegas e do ambiente de trabalho do Ministério Público de Campo Mourão, Paraná.

Um desses colegas, Tássio Eduardo, que se tornou seu amigo, escreveu esta bela homenagem como uma carta aberta, contando tudo de bom que com ela experimentou nos muitos anos em que conviveram:

“E aí Josi, tudo bem contigo? Acho que você não vai se importar se eu usar esse espaço aqui para falar um pouco sobre você, não é? As pessoas são tão complexas, ricas e cheias de camadas. Mãe, filha, esposa, amiga, colega de trabalho, servidora pública, neta, enfim... são tantas visões, são tantos olhares de ângulos tão distintos que, em sua totalidade, nos ajudam a conhecer melhor quem elas são.

E eu quero aqui dar um testemunho sobre uma das camadas que faziam de você essa pessoa tão especial, amada e querida por todos nós: a amiga e a colega de trabalho. Pra isso, Josi, eu preciso voltar um pouco no tempo, em 18 de abril de 2005, quando nos conhecemos. Nós dois, recém-aprovados no concurso para Oficial do Ministério Público, estávamos dando início a uma carreira que já dura mais de dezesseis anos.

Isso tudo ainda na antiga sede do MP, um imóvel minúsculo, cedido pela COPEL, que ficava quase em frente à entrada lateral do Clube 10 de Outubro. Você se lembra que às vezes eu ia à sua sala para tirar uma dúvida ou conversar, e eu entrava cantando um trecho da música dos Anos 80, da The Outfield: 'Josie´s on vacation far away'... Pra quem não sabe, era uma música dessas meio 'grude', que já apareceu em diversos comerciais e quase todo mundo já ouviu e que acabou virando meio que uma 'piada interna' nossa, por assim dizer.

Eu falei da sede antiga. Mas logo no ano seguinte, em 2006, a COPEL iria nos 'despejar' do imóvel e lembro de nós termos ido visitar inúmeros imóveis, inclusive nos fins de semana, em busca de uma nova sede. Sede que você mesma encontrou e que ainda é a casa do Ministério Público de Campo Mourão. Ah, mas tem algo que poucas pessoas sabem, né Josi? Você se recorda como a casa estava com uma estrutura péssima e com as paredes todas sujas?

Não havia recursos naquela época para reformas ou pinturas, e então você deu a ideia de nós mesmos lavarmos as paredes antes da mudança. Passamos um sábado e um domingo esfregando as paredes. E dizem que os funcionários públicos não têm iniciativa ou são preguiçosos... ah, quem pudesse acompanhar meio expediente seu nunca mais falaria tamanha blasfêmia!

Pois é, Josi. A verdade é que você ERA a sede do Ministério Público de Campo Mourão. Não há definição melhor. Em pouco tempo, você se tornou a responsável por toda a parte administrativa; pelos estagiários e contratos; pelas compras e reformas. TUDO. Sabe quando as mães falam que não têm um minuto de folga? Que os filhos ou o marido estão o tempo todo gritando 'maaaeeenhêêê?'... na casa? Lá no MP era assim. 'JOOOSIIII'??...

Sim. Como uma mãe, você era a nossa referência dentro da instituição. Não havia problema que você não resolvesse, sempre com um sorriso no rosto. Aliás, isso era muito a sua cara: alegria, felicidade. Que risada gostosa você tinha! Mas você se engana se acha que vou falar que você era só isso. Não era não. Porque você também chorava. E muito. Bastava eu ou alguém entrar triste na sua sala que você já se desmanchava em lágrimas com a gente.

Porque você era isso! Você era a EMPATIA em pessoa! Você comemorava, chorava e se indignava com a gente. Você tinha esse dom de sempre saber como nós nos sentíamos. E nunca, mas nunca, deixou ninguém na mão. Quantas vezes desabafei contigo? Você sabe, né? Quantas alegrias e quantos sofrimentos passamos juntos? Claro que você sabe.

Sabe, Josi, eu não teria nenhuma reclamação para fazer sobre você, senão pelo fato de ter nos deixado antes, muito antes da hora. De não conhecer a próxima sede do MP. Mas a real é que nem isso a gente pode falar, porque sabíamos que você não queria ir. Não foi sua culpa. Mas nem tudo a gente organiza, né? Nem tudo dá pra administrar do jeito que você administrava o Ministério Público.”

Tássio Eduardo finaliza dizendo da dificuldade em retornar ao trabalho sem a presença de Josi: “Eu voltei à sede do MP com uma sensação de vazio tão grande que, confesso, não sabia se ia aguentar. Mas, fazer o que, temos que enfrentar, não é? Talvez eu continue a pensar na música da nossa piada e faça de conta que você só está de férias, e bem longe. O que não deixa de ser verdade. Então, descanse e curta suas férias, minha amiga, porque você as merece como ninguém"!