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Josino de Souza Neves Filho

1928 - 2020

Aposentado, acordava na madrugada para caminhar e ter mais tempo para ficar à toa.

Josino de Souza Neves Filho era o caçula de uma família com nove filhos. Adulto, foi pai de nove filhos também. Ainda na primeira infância, perdeu o pai. Segundo relato da filha Elenilde, que o homenageia por meio deste tributo, o pai não costumava falar sobre a infância. “Acho que nem brincou quanto deveria, ou viveu a adolescência, pela necessidade de trabalhar para ajudar minha avó, que não cheguei a conhecer”, relata.

Adulto, teve dois casamentos. Do segundo nasceram os nove filhos. Elenilde é a primogênita, posição na família que lhe conferiu mais atenção e afeto do pai. “Ele sempre foi um homem pouco afeito a delicadezas e um tanto machista, tinha uma personalidade autoritária”, conta. Vendo a família aumentar ano a ano, Josino seguiu vida afora na lida da roça, como trabalhador rural. Com seu esforço, formou os filhos no Ensino Médio, “menos os meus irmãos que não se interessaram pelo estudo”, conta Elenilde.

Depois de aposentado, a família mudou definitivamente para a cidade. “Gostava de levantar de madrugada pra fazer a caminhada, e como dizia, 'ter mais tempo pra ficar à toa', gostava de jogar dominó, mas não aceitava derrota...”

Fazendo uma retrospectiva da vida ao lado do pai, Elenilde comenta que eles se aproximaram mais após a mudança para Goiânia, para onde o pai foi para tratar um enfisema pulmonar. “Ele acabou ficando por aqui, praticamente aos meus cuidados. Embora tivesse outros oito filhos, ele confiava muito em mim”. Os momentos de convivência trouxeram reflexões para a primogênita de Josino. “Comecei a perceber que talvez aquela dureza e autoritarismo, foram necessários para ele em determinado momento da vida; ele foi ficando uma pessoa mais carinhosa e mais humilde, mas a teimosia, ah, esta nunca o abandonou...”.

Aos 91 anos, Josino "tinha uma memória excelente, lembrava dos aniversários dos filhos e dos netos; e quando tínhamos dúvida sobre o aniversário de alguém, recorríamos a ele”, diz a filha.

Elenilde lembra que o pai gostava de saber a idade das pessoas e o quanto elas ganhavam e, quando se tratava dele mesmo, vivia dizendo que queria ter uma partida rápida para estar com Deus. Elenice crê que o Criador ouviu as preces do pai, e está certa de que Josino esteja bem, “nos vigiando lá de cima”.

Ao homenagear o pai, Elenilde estende o sentimento aos milhões de pessoas que vivem a perda de um ente querido pela Covid-19. “Quero prestar minha solidariedade a todas as pessoas que perderam, um pai, uma mãe, um irmão, irmã, amigo, um colega de trabalho por causa dessa pandemia, da negligência e do descaso.

Josino nasceu em Correntina (BA) e faleceu em Goiânia (GO), aos 91 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Josino, Elenilde Neves Rocha da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 1 de dezembro de 2021.