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Manoel Rodrigues de Oliveira

1959 - 2020

Era o paizão de todos, fazia o torresmo mais saboroso e a melhor caipirinha de limão do mundo.

Conhecido como tio Nenê, ele cuidava de preparar a comida favorita de toda gente, pois gostava de cozinhar e agradar quem estivesse por perto. Mais ainda dona Angélica, sua eterna companheira, cúmplice e amiga, a quem chamava de Mariinha.

Tio Nenê era um homem bom, honesto e possuía um olhar acolhedor.

Avesso às convenções, nunca casou no papel, tampouco teve filhos de sangue, muito embora reunisse uma prole de coração.

"Ele era paizão de todos, amava incondicionalmente as pessoas a sua volta", diz a sobrinha Juliana, uma das filhas de coração.

Mestre em bloquear seu perfil numa rede social por sempre se esquecer da senha, tio Nenê cometia outras trapalhadas, como insistir em andar de bicicleta, mesmo sem ter equilíbrio nenhum.

Juliana se recorda, entre risos, a vez que ele caiu dentro de um bueiro.

Teve também um episódio em que tio Nenê comprou um carro e telefonou, todo empolgado, para contar à família. Ele ria, sem parar, pois, estava há mais de duas horas dentro do veículo, enquanto o vendedor esperava do lado de fora que ele desse a partida.

"Mas ele não contou que não sabia dirigir, e ficava ali, só passando a mão no volante", conta a sobrinha.

Para Juliana, o tio era dono do sorriso mais sincero e não media esforços para ajudar quem quer que fosse. "Esse era seu maior defeito", ela acredita.

Já tio Nenê acreditava que sorrir era o melhor remédio, levava à risca sua frase mais proferida: "Não vale a pena perder tempo com coisas que não trazem felicidade".

Manoel nasceu em Ibitiara (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela sobrinha de Manoel, Juliana Assis Miyajima. Este tributo foi apurado por Mateus Teixeira, editado por Mariana Quartucci, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de novembro de 2020.