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Julia Maria de Jesus

1948 - 2020

Nos lábios sempre um batom vermelho, os cabelos ela enrolava na véspera para amanhecerem impecáveis.

Tia Julia tinha um jeitinho particular de cuidar dos seus, era praticamente impossível sair da sua casa sem aceitar uma fruta como lanche, manga e banana eram suas preferidas. Sempre foi muito ligada à família e fazia questão de estar pertinho, todo fim de semana visitava os sobrinhos e aqueles que moravam longe ganhavam uma ligação cheia de carinho.

Suas saias estampadas eram sempre acompanhadas de uma blusa de cor forte. Não podia faltar também um belo batom vermelho nos lábios, “nunca, nunquinha saía de casa sem usar relógio e passar perfume”, não importava qual ocasião fosse.

Nas noites de chuva mais forte ia dormir na casa de uma das sobrinhas e mesmo assim passava um tempão fazendo touca nos cabelos, enrolando mecha por mecha com mice - grampos de cabelo bem fininhos-, assim já acordava pronta no dia seguinte.

Devota de Sant’ana não perdia uma procissão, era figurinha carimbada nas missas de domingo de manhã, mesmo chegando quase sempre atrasada “e lá da frente eu lhe avistava, ‘olha onde vem tia Julia', dizia sorrindo”. “Quanta falta vai fazer em nossas vidas, nossa eterna Julinha!”

Julia nasceu em Ipirá (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sobrinha de Julia, Marize Silva dos Santos Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Laís Oliveira, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 6 de junho de 2021.