1946 - 2020
Aprendeu a costurar observando a mãe. Tomou gosto e até em fábrica trabalhou, aposentando-se como piloteira.
Juliana, ou Dona Ju, era descendente de estrangeiros e falava muito de seus avós e de como eram os costumes no país onde nasceram. Sua família era muito humilde e morava no Bairro do Limão em São Paulo. Seu pai faleceu quando ela e os irmãos ainda eram muito novos, então sua mãe cuidou dos sete filhos. Tiveram uma infância muito difícil, e Juliana, ainda muito pequena, começou a trabalhar fazendo faxina em casas de família. Sua vida foi uma luta, com muitas perdas - ela, em resposta, foi uma verdadeira guerreira.
A mãe de Dona Ju tinha uma máquina de costura caseira, daquelas antigas, que funcionam no pedal. Com ela, cortava e costurava as roupas dos filhos. Acompanhando a rotina da mãe, Juliana aprendeu a costurar e, depois de ser diarista por alguns anos, tornou-se uma costureira de mão cheia. Trabalhou em várias fábricas e aposentou-se como piloteira na área de confecção: era responsável por montar a primeira peça de uma produção inteira. Uma das filhas de Dona Ju conta que a arte da costura foi passada de geração em geração: a avó da Ju ensinou a mãe da Ju, que ensinou a Ju, e esta futuramente ensinaria sua filha Monika.
Ao longo da vida, Dona Ju foi uma pessoa de profunda fé em Deus e dedicou-se à Igreja Adventista, sua grande paixão. Era Adventista do Sétimo Dia e não perdia os cultos. Dentro da Igreja, trabalhava como missionária, sempre muito ativa. Também tinha profundo conhecimento da Bíblia e era ótima em ensinar sobre ela. Somente parou de frequentar os cultos assiduamente porque a idade chegou e ela passou a sentir fortes dores nas pernas. Sua vida de fé possibilitou que ela casasse com Ademir Lopea, homem que conheceu em uma igreja que ambos frequentavam. Realizavam os trabalhos missionários lado a lado e aposentaram-se na mesma empresa, pois tinham também a mesma paixão: costura e confecção.
Juntos, Juliana e Ademir formaram uma família linda com três filhas: Valéria, Monika e Priscila, as quais sempre foram o tesouro de Juliana, muito companheiras e atenciosas. Quando Dona Ju era diarista, moravam bem no alto de uma ladeira e era possível enxergar o ponto de ônibus, o qual as filhas ficavam observando, ansiosas pela chegada da mãe. No momento em que Dona Ju aparecia, corriam até lá para ajudá-la com as sacolas. Quando ainda moravam em São Paulo, o casal gostava de levar as filhas ao Horto Florestal aos sábados, e as pequenas passavam a tarde toda brincando.
Na época em que Dona Ju estudou, a escola ia só até o quarto ano. Mesmo assim, sua letra e sua leitura eram impecáveis. Era uma grande estudiosa, principalmente da Igreja Adventista. Além disso, entretinha-se lendo a Seleções, uma revista pequena e com muitas histórias verídicas, reportagens e curiosidades sobre o mundo. Gostava de ler e depois passar a revista para a filha Monika ler também.
Monika comenta sobre as roupas que dona Ju fazia para ela e para as irmãs: recorda-se de um vestido cheio de florzinhas e com a gola branca e de outros de cetim rosa com fitas coloridas. As roupas eram feitas, sempre com muito capricho, especialmente para irem à Igreja aos sábados. Todos os vestidos tinham muitas flores, babados e mangas bufantes. Dona Ju tirava as medidas, modelava os vestidos em folhas de jornal e a mãe de Ju costurava. Inspiravam-se nos modelos de revistas antigas.
Quando Dona Ju não estava trabalhando na costura ou na Igreja, gostava de visitar os familiares. Seu maior prazer era estar perto deles. Em especial, gostava bastante de quando seus netos iam até sua casa para passarem um tempo juntos. Dona Ju era uma avó babona e superprotetora — uma defensora ferrenha dos netos. Se alguém tentasse chamar a atenção de algum deles, ela logo falava “deixa o menino” ou “deixa a menina”. Os netos, por sua vez, quando aprontavam alguma arte, corriam para o colo da avó, pois sabiam que lá, no porto seguro que era a Dona Ju, encontrariam proteção. Eles passaram a infância na casa dela.
E como Dona Ju mantinha a casa organizada! Em São Paulo, a moradia tinha chão de madeira, e as filhas tinham que lixar e encerar o piso. Quando chegava em casa, Dona Ju tinha a mania de passar as mãos nos móveis para verificar se ainda tinha poeira. Para ela, tudo devia estar sempre muito limpinho e arrumado: não admitia coisas fora do lugar ou louças na pia. Outra mania sua era lavar as roupas na mão, para só depois colocar na máquina de lavar.
“Faz muita falta”, relata Monika, ao falar que a mãe sempre dizia que oraria por ela quando algum problema particular lhe era apresentado. Monika também conta que a mãe sempre a ajudava em seus problemas. Se não conseguissem achar uma solução, Dona Ju falava: “Eu vou orar por você”. Ela era assim: firme em suas opiniões e, quando alguém precisava de ajuda, era a primeira a tentar contribuir ou encontrar solução. Sempre que podia, ajudava os outros, doando até além do que tinha se alguém precisasse de amparo. Era também muito honesta e ensinou às filhas que a honestidade deve vir acima de tudo.
Sua filha Valéria enfrentou um câncer por mais de vinte anos. Dona Ju dedicou muito tempo de sua vida aos cuidados da filha, sem nunca desampará-la. Lutaram juntas contra a doença, e a família, muito unida, também as apoiava, pois ninguém soltava a mão de ninguém. Valéria amou profundamente a mãe, e esse amor sempre foi recíproco. E assim, pelo exemplo de força, Juliana ensinou à família que não há momento difícil que não possa ser superado. É preciso batalhar até o fim e não desistir.
Hoje as filhas Monika e Priscila lembram com muito amor e carinho a história de vida de Juliana. Seguem trilhando seus caminhos com os exemplos e ensinamentos de uma mãe forte e querida.
Juliana nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em Praia Grande (SP), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela Filha de Juliana, Monika Starka. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Karina Zeferino, revisado por Débora Spanamberg Wink e moderado por Rayane Urani em 30 de agosto de 2021.