1974 - 2020
Carioca da gema que dizia: "Vamos viver o hoje, que o amanhã só a Deus pertence."
História reconstruída pela amiga Juliana R. Nogueira, a partir do testemunho da esposa Simone, entre 13 a 20/05/2020.
Júlio 'Cezar', como ele mesmo se intitulou, foi 100% carioca da gema.
Sempre presente na vida dos amigos e da família, era louco por crianças e animais. Alegria constante e contagiante.
O eterno garoto que amava natureza, motos, filmes, churrasco e cerveja gelada. Planejava comprar um carro - sua outra paixão - para viajar com a esposa Simone, casado por 11 anos.
Filho da carioca Dona Rosa Maria e do nordestino Seu José Gomes, Júlio era o segundo filho e cresceu na Zona Oeste do Rio ao lado de seus outros irmãos - Marcelo, Carlos e Roberto. Mais tarde, descobriu que também tinha uma irmã, a Francisca, fruto de outro relacionamento por parte do pai e com quem estreitou laços rapidamente.
O pai, que trabalhou como 'barman' no Hotel Copacabana Palace, retornou para a terra natal Ceará, depois de alguns anos. Um dos lugares onde Júlio pretendia voltar para visitar a família paterna. Ele guardava muitas lembranças do tempo de criança, da avó Dona Raimunda, da bisavó Dona Julia e do Tio Cocada, parentes já falecidos, com quem viveu momentos inesquecíveis contados por ele.
O carioca da gema começou a trabalhar cedo assumindo várias atividades ao longo de sua vida como 'office-boy', auxiliar de escritório, motorista, entregador de mercadorias e, por último, repositor em um supermercado “de bacana” na Zona Sul - como ele dizia.
Um de seus prazeres era alugar um carro e viajar com a esposa para a casa do irmão Marcelo. “Guardo muitas lembranças de Cantagalo e de Cordeiro, lugares onde meu cunhado viveu e para aonde, sempre que podíamos, íamos passear. Júlio dirigia o carro feliz da vida, como se tivesse ganho um presente. Eram sempre dias muito felizes”, relembra Simone.
“Quando o tio Júlio vinha passear em casa era só festa, churrasco e muitas risadas. E todos os anos ele vinha comemorar com a gente o aniversário da minha filha. Meu tio era aquele que me dava bom dia, boa tarde e boa noite; que fazia comentários em todas as minhas postagens nas redes sociais; que implicava com Victor, chamando ele de homem sorriso; que me chamava de princesa e que falava que eu era a predileta; que mandava áudios falando bobeira; que amava o omelete da mamãe e que me pediu para 'cuidar dos velhos aqui' em sua última mensagem", conta emocionada a sobrinha Isabela, filha de Marcelo.
O Julio Cezar 'com Z' também era conhecido como Jabulha, Jaba, JC Duran, e viveu historias inesquecíveis narradas pelos amigos.
“Julio era um dos caras mais sacanas que já conheci em toda a minha vida”, se recorda Ricardo Motta, entre outros tantos amigos. Dono de um grande senso de humor, Julio adorava memes e suas redes sociais eram alimentadas diariamente com imagens engraçadas, onde sempre algum amigo era marcado e provocado.
“Foi um grande amigo, eu o admirava muito. Teimoso e cabeça dura, mas dono de um coração enorme. Gostava de zoar os amigos, até ficarmos p... da vida. E era só vê-lo entortar a boca que sabíamos que estava contando uma daquelas 'histórias de pescador'. Uma figura!", relembra Rodrigo, um de seus amigos de adolescência, ao lado de Hugo, Eduardo e Junior.
O amigo Hugo se recorda com nostalgia das aventuras de bicicleta, as andanças, tombos e vitórias vividas com o amigo que a vida lhe deu: “Eu sei que o tempo vai transformar essa tristeza que estou sentindo em saudades. Saudades que serão eternas, assim como a esperança de voltarmos a nos encontrar na eternidade. Descanse em paz, meu amigo.”
Ao fazer uma reflexão sobre a quantidade real de amigos verdadeiros que já passaram em sua vida, Eduardo conclui que, sem sombra de dúvidas, Julio foi um deles: “Um amigo que eu podia contar em qualquer momento e para qualquer coisa. Um amigo que escolhi para fazer parte da minha vida e que nem a distância diminuiu essa parceria. Um amigo que sempre trouxe muita alegria, boas risadas e que guardarei sempre no meu coração. Cuida da gente aí, Julio, por favor!”
“Vivemos muitas histórias e demos muitas risadas. Julio estava ao meu lado no meu primeiro porre, quando me ajudou a fazer xixi; e eu no primeiro dele, quando saiu até arroz pelo seu nariz. Agradeço a Deus por ter me dado a honra de ter vivido tantas aventuras com o meu amigo, como as histórias da pracinha do Brito onde ele sempre esteve presente. No mesmo dia do nascimento do meu filho – momento mais feliz da minha vida - o meu amigo partia. Hoje acredito que essa coincidência de fatos foi para que Julio pudesse iluminar e proteger a chegada dele”, relata Junior.
Além dos amigos 'reais', Julio cultivou muitas amizades virtuais, sempre se mostrando presente. “Foram 18 anos de amizade que começou em uma sala de bate-papo e que se transformou em uma grande história de lealdade mútua. O amigo que estava ao meu lado nos melhores e piores momentos de minha vida e que vibrava junto com as minhas conquistas. Era a única pessoa para quem eu me desarmava e mostrava minhas fraquezas, sem receio de ser julgada. O amigo que ficou me devendo uma visita...”, lamenta Juliana.
As dificuldades diárias eram incapazes de deixá-lo desanimado ou abalado, nem mesmo no período em que ficou um longo tempo desempregado, mas em que ainda conseguia proporcionar alegria às pessoas que conviviam com ele. Nesses momentos mais difíceis, Julio sempre repetia a frase que Simone nunca irá esquecer: “Fica assim não, vamos viver o hoje, que o amanhã só a Deus pertence”.
Não deixou filhos, mas muitos se sentem órfãos diante de sua ausência física. Julio era louco pelos sobrinhos e procurava sempre estar cercado deles. “Sinto muitas saudades”, lamenta Sophia, sobrinha que ele considerava como filha de coração.
O fã de 'Star Wars' e 'Matrix' deixa eternas saudades, mas também lindas lembranças que para sempre aquecerão os corações de quem o conhecia. Em especial, os corações dos amigos do bairro Costa Barros e da 'Mulambada' - apelido carinhoso dado ao grupo de amigos que nasceu durante o trajeto da linha de ônibus 855.
Domingo de Páscoa, data que marca a ressurreição de Cristo e que acabou se tornando um alento aos familiares e amigos pela compreensão de que a morte nunca terá a palavra final e a vitória sempre será da VIDA.
Júlio nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 45 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela esposa de Júlio. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Priscilla Romana Fernandes, revisado por Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 30 de maio de 2020.