1933 - 2020
De operário a gestor, soube conciliar trabalho, dedicação à família e solidariedade ao próximo.
Juraci ficou órfão de pai aos três anos e isso determinou sua entrada precoce, aos nove anos, no mundo do trabalho. Em 1947, quando contava 14 anos de idade, foi registrado como o funcionário de número 104 num frigorífico recém instalado em Concórdia, SC.
Ali ele chegou timidamente, pisando no piso frio e úmido com seus tamancos, para executar tarefas simples e permaneceu até se aposentar, quatro décadas depois, quando a empresa já contava com 5.000 trabalhadores locais e outros tantos milhares nas diversas filiais espalhadas por todo o país.
Aprendeu com o tempo a nutrir grande admiração pelo fundador da empresa, que por sua vez o tinha como um dos interlocutores privilegiados e de confiança para assuntos operacionais no chão da fábrica. Ele cresceu junto com a empresa e, mesmo sem possuir um curso superior, atuava alicerçado por inúmeros cursos de qualificação técnica que o prepararam para o cargo de gestor, chegando a supervisionar uma centena de engenheiros e técnicos.
Era um trabalhador incansável que se colocava à disposição da empresa 24h por dia. E, nas palavras da filha Lilian e do genro Remy, Juraci era: “Obsessivo por tempos, movimentos e métodos em busca de produtividade; operário padrão na empresa, no município e no Estado; sindicalista num tempo em que as relações trabalhistas, numa empresa de uma pequena cidade, ainda se davam mais pela mediação de relações familiares e comunitárias do que pelo tensionamento de relações de classe”.
Para eles, Jura soube com maestria ser legitimado ao intermediar demandas, conflitos, reivindicações e interesses das partes envolvidas. Dentre as habilidades que utilizava nessas missões, destacavam-se sua capacidade de organizar e realizar, sua disposição, energia e destemor diante de desafios que extrapolavam do âmbito da empresa para a comunidade e desta, para a sociedade.
E mais, conta Remi: “Onde houvesse uma carência social, uma ausência de um serviço público, um buraco negro diante de uma necessidade coletiva, um questionamento quanto ao funcionamento das instituições, lá estava o Jura, pronto para uma nova inciativa, um novo empreendimento, colocando seu talento, sua visão e comprometimento a serviço de uma nova causa, buscando seu equacionamento e resolução, mobilizando pessoas, articulando esforços e apoios, captando fundos, reivindicando direitos”.
Muito integrado à sua comunidade, foi detentor de várias funções de relevância local, regional e até nacional: Fundador e presidente de vários clubes e organizações comunitárias e civis; vereador campeão de votos em três legislaturas; presidente da Câmara Municipal de Concórdia; Vice-presidente da União dos Vereadores de SC; Membro da diretoria da União dos Vereadores do Brasil e Cônsul Honorário de Concórdia em Balneário Camboriú.
Ao longo da vida, transitou com elegância do tempo dos tamancos do garoto aprendiz ao homem que podia calçar sapatos confortáveis e de boas marcas. Progrediu das tarefas mais simples para as mais intrincadas atribuições gerenciais. Circulou com desenvoltura tanto pelo chão da fábrica como pelas acarpetadas salas de reuniões da diretoria. Soube se conduzir dentro das simples pensões que morou na juventude e dos condomínios de apartamentos de alto padrão nos quais instalou a família.
Juraci, ou Jura, como era chamado por todos, trilhou uma trajetória que não passava despercebida por seus colegas operários na fábrica e nem na convivência com empresários de sucesso e políticos de destaque. Assim, realizou com sucesso sua escalada de ascensão social, saindo da condição de operário, para a chamada aristocracia operária ao exercer a função de gestor que lhe permitiu ascender à classe média.
Foi esportista durante toda a vida e talentoso jogador de futebol quando jovem. Torcedor muito fiel do Colorado gaúcho carregava sempre no bolso sua carteirinha de associado. Foi homenageado com seu nome no estádio de futebol em Concórdia. Jogou tênis até aos 84 anos e, com a jovialidade de um menino, corria atrás de todas as bolas e de cada ponto com entusiasmo.
Jura conseguiu uma proeza que poucos conseguem: conciliar a contento a vida profissional com a vida familiar. Foi casado com Lourdes, de quem se tornou viúvo. Foi um pai amado, o melhor do mundo, que se colocou de maneira eterna nos corações dos filhos Elaine, Flávio e Lilian. Como avô amoroso e dedicado, topava tudo com os netos João Pedro e Davi.
Foi um ser humano lindo que conseguiu ser líder em tudo que se propôs a fazer sempre. Deixou um belo exemplo para todos que tiveram o prazer de conviver com ele e será lembrado pelo seu sorriso largo e seu bom humor.
Cumpriu sua missão intensamente e com louvor. Quando chegou ao topo de sua escalada, nunca deixou de ser quem era na sua essência: um homem cordial, solidário, respeitoso com seus colegas de trabalho e com seus amigos. Ele nunca escondeu ou se constrangeu com sua origem humilde. Pelo contrário, soube enaltecê-la e utilizar-se de sua experiência para amparar e estimular, sem desrespeitar os menos bem-sucedidos na vida.
Deixou imensa saudade no coração dos filhos, netos e genros Remy e Júnior que o amarão eternamente!
Juraci nasceu em Erechim (RS) e faleceu em Balneário Camboriú (SC), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha e pelo genro de Juraci, Lilian Magnani Silva e Remy J. Fontana. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 6 de setembro de 2021.