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Karlo Schneider Filgueira Nogueira

1980 - 2021

Ele amava os Beatles e tinha como lema de vida uma de suas frases: “Tudo que você precisa é amor".

Schneider era um ser iluminado que emanava amor. Deixou para os filhos a maior lição que eles poderiam aprender: que o amor é simples, está em atitudes e ações singelas e verdadeiras; que amor é sobre sentir. E mesmo com sua partida, sua família continuou sentindo esse amor em todos os seus dias.

Ele sempre foi uma pessoa intensa, que colocava muito sentimento em tudo que fazia; que se dedicava muito, fazendo o seu melhor por tudo e por todos; estava sempre disposto a ajudar, e quando isso parecia difícil, ele dava um jeito de transformar a impossibilidade em possibilidade.

Alcione, a esposa, conta sobre a história de amor que viveu com Schneider: “Foi muito além da interação física. Nós nos amamos de corpo e alma. Nosso começo foi bem diferente, porque nos conhecemos dias antes de ele viajar para Inglaterra. Ele passou uns seis meses lá e todo esse tempo nos comunicávamos por cartas, que ainda tenho guardadas. Quase todos os dias eu enviava uma carta pra ele, dentro de um envelope colorido, assim, de longe, ele saberia quando era uma carta minha. E ele respondia com a mesma frequência”.

“Ele escrevia lindamente, tenho vários poemas que ele escreveu durante a vida e um deles achei há poucos dias em uma pasta junto com uns documentos. Esse poema fala sobre querer estar aqui mesmo não estando... Cartas, brincadeiras, caça ao tesouro, adivinhas... Ele amava fazer essas brincadeiras.”

“Eu fui abençoada por poder construir uma família linda com ele. Tivemos três filhos, também lindos: Bárbara, nossa primogênita; Layla, nossa artista; e Arthur, nosso caçula."

Schneider era um beatlemaníaco fervoroso e morou na Inglaterra para poder conhecer a cidade dos Beatles e os lugares importantes para a banda. “Fomos a oito shows de Paul McCartney, inclusive um em Fortaleza, no qual eu estava com oito meses de gravidez. Também levamos nossas filhas Bárbara e Layla para show de Paul."

Outra paixão dele era o Flamengo! Tão grande, que se inspirou no nome de batismo do jogador Zico para o filho Arthur, homenageando assim o seu ídolo.

Profissionalmente, ele transitava entre duas atividades. Formado em Turismo, trabalhava no ramo de hotelaria e amava sua profissão na qual iniciou como recepcionista e alcançou o cargo de Gerente de um hotel.

Nas horas vagas, empresariava uma banda chamada Rock Steage e produzia eventos de "rock" na cidade de Natal, Rio Grande do Norte. Seu objetivo com os eventos era reunir pessoas, movimentar o cenário, ver seus amigos tocando e as pessoas se divertindo. Muitas vezes a família teve prejuízos financeiros, mas ele ficava feliz quando o evento era um sucesso para quem participava.

Muito criativo, tinha ideias inusitadas e uma delas foi quando Alcione engravidou de Bárbara, sua primeira filha: numa reunião com os amigos em casa, pediu a todos que, juntamente com ele, escrevessem cartas para ela. As cartas seriam guardadas na sua coleção de discos de vinil, formando um Jogo de Caça ao Tesouro, que ela deveria conquistar quando completasse 15 anos. “Na época foi só uma das mais diversas brincadeiras que ele fez em nossa casa; mas, com sua partida, as cartas se tornaram um elo de amor muito maior”, diz Alcione.

Infelizmente, na época da pandemia de Covid-19 ele ficou desempregado e, num ato de desespero, vendeu parte de sua coleção. Junto com os discos, lá se foram as cartas, que representavam um presente de valor inestimável, pois continham o abraço de amor do pai no aniversário de 15 anos de Bárbara.

Seus vinis foram vendidos para todos os estados do Brasil e, infelizmente, uma pessoa que encontrou uma das cartas, sem saber da história, a descartou. Alcione conta como lidou com a situação: “Não ficamos tristes, porque eu já vinha conversando com nossa filha sobre a possibilidade de as mensagens não serem encontradas. Porém, o mais importante aconteceu: a mensagem de amor chegou e, não só para nós, que já tivemos o privilégio de viver esse amor de maneira forte e cotidiana. Chegou também para muitas pessoas que estavam precisando de um acalento nesses dias tão difíceis”.

E Alcione conclui sua homenagem dizendo, com carinho: “Schneider emanava boas energias, felicidade, amor. Sabe aquelas pessoas que não deveriam partir? Ele era uma dessas pessoas. Todos deveriam ter um Schneider na vida, nem que fosse por um minuto e esse um minuto seria suficiente para ele se tornar inesquecível na vida de qualquer pessoa”.

Karlo nasceu em Mossoró (RN) e faleceu em Mossoró (RN), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Karlo, Alcione Henrique de Araújo. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 10 de novembro de 2022.