Sobre o Inumeráveis

Larissa Queiroz Gluczkowski

2001 - 2020

O “efeito maravilha” de Lalinha será eternizado em girassóis espalhados por aí.

Essa é uma homenagem de Ritta de Cássia para sua norinha Lala:

Larissa dedicou sua vida ao amor, sempre com um sorriso guardado como presente a quem estivesse à sua frente, espalhava afeto e encanto por onde passava. Em meio ao dom da palavra e do canto, Lalinha distribuía o melhor de si, assim era a menina com “efeito maravilha”, conceito nomeado pela família e amigos.

"Eu sempre achei que nós somos mandados para a Terra para realizar três grandes feitos: aprender a amar, ensinar a amar e mudar a vida de alguém. A Larissa veio para realizar apenas duas: nos ensinar a amar e mudar as nossas vidas, pois amar ela já sabia”, ressalta a sogra Ritta, que segundo ela, era um anjo sem asas.

Os dias em que as famílias se reuniam na chácara, era sinônimo de sol, alegria, almoço e uma sobremesa sempre feita pela Lala, “ela gostava muito de cozinhar e sempre fazia bolo, principalmente uma torta salgada que era uma delícia, ela falava ‘óh sogra, fiz pra você’, e eu respondia que não adiantava ela querer me comprar”, Ritta sorri ao contar e completa “o meu amor ela já tinha".

Espontaneidade em pessoa, assim era a Lalinha, dançava e cantava como se ninguém estivesse olhando, vivia a vida com o olhar mais bonito. “Com ela a vida era uma festa”, comenta Ritta ao contar sobre como a nora a ensinou a amar e entender os aprendizados da vida nas pequenas coisas. “A gente conversava e ria muito juntas, meu marido até brigava por nós sermos tagarelas até na madrugada”, narra ela com ar de saudade.

Larissa amava cantar e se dedicava ao canto no grupo de jovens da igreja, “a voz dela era linda, de entrar na alma e no coração”, relata a sogra. Mas Lalinha não queria só cantar, ela queria mudar o mundo através da música, tinha em mente o projeto de transformar a vida de jovens por meio disso, e via a igreja como caminho. Lala não realizou o seu desejo em vida, mas inspirou sua família, que tem se movimentado na realização de um bazar para a compra dos instrumentos musicais do futuro projeto. “Ela veio pra fazer diferença, fez e continua fazendo mesmo após sua partida”, completa Ritta com carinho.

Mas os feitos de Larissa não param por aí. A menina sempre foi uma pessoa que ajudava o próximo de forma concreta, como correr atrás de alimentos e cestas básicas para doação. A marca de Lari ficou tão forte, que mesmo após sua morte, as pessoas continuam entregando alimentos em sua casa. Hoje, a mãe e a sogra continuam com o trabalho social, em sua memória e legado.

Lala era puro encanto, mas ai de quem se portasse de maneira preconceituosa, “ela virava no Jiraya”, conta Ritta sobre a nora assumidamente feminista, que se posicionava sempre contra qualquer preconceito ou desigualdade, fosse de gênero, etnia ou orientação sexual. Diante de qualquer tipo de discriminação o discurso era certo.

Larissa também tinha como luta a sustentabilidade, pensava nesse mundo como o lar de um futuro melhor, onde nós podemos plantar nossas próprias sementes. A sogra Ritta conta que Lala fez um curso durante o qual tinha como trabalho acadêmico montar uma empresa, a ideia dela teve o nome de “Fênix”; segundo ela, o projeto teria como iniciativa que as pessoas ao serem cremadas, tivessem suas cinzas depositadas onde se pudesse plantar uma árvore, e com isso gerar ações sustentáveis.

No dia da sua cremação, familiares e alguns amigos juntaram-se para homenagear Larissa. Os jovens cantaram músicas e lançaram ao ar balões com gás hélio, em cada balão havia uma semente de girassol. “Segundo eles, no momento em que cada balão explodisse, a semente iria cair e germinar em algum lugar. Então cada vez que a família visse um girassol era para recordar a Larissa, que ela estaria
renascendo e fazendo uma nova morada”, relembra a sogra, emocionada.

Lalinha sempre foi inspiração e exemplo de pessoa que toma iniciativas pelo bem coletivo, para todos ao seu redor. E assim continuará existindo, em cada canto; cada doação e partilha; a cada novo girassol que germinar, e tudo o que não cabe em “três vidas inteiras”, trecho de uma música que foi dedicada a ela.

-
Essa é uma homenagem da melhor amiga de Lala, sua xará Lari:

Como amiga, Lala - como era chamada pelos mais próximos - era feliz, alegre e cheia de entusiasmo; era amigável, companheira e a presença mais importante das festas. Fazia questão de largar seus problemas e ajudar as pessoas ao seu redor.

Lala sempre foi sinônimo de amor, amou sem olhar a quem ou sem se importar pelo motivo, ela sempre recebia a todos com muito afeto e felicidade.

Sua melhor amiga e xará Larissa, vulgo Lari, lembra que só está aqui hoje, porque quando não aguentava mais, Lala não a deixou desistir, lembra de tantos momentos nos 10 anos ao seu lado, que daria para escrever um livro; lembra das vezes em que a amiga segurava suas mãos nos momentos difíceis, quando a deitava em seu colo para orarem juntas; lembra das primeiras experiências de adolescente como o primeiro porre e o primeiro salto alto - que ela adorava -, das noites vendo séries e comendo porcaria, das festinhas com os amigos e da formatura quando fizeram juntas o melhor texto de suas vidas; lembra até de quando a vaca da vizinha que apelidaram de Frida, correu atrás delas.

Lari conta que a amiga era pura vaidade com seus cachinhos, tinham cheiro de baunilha e as vezes de ameixa; quando ficava nervosa comia as unhas e coçava a testa, e quando seu óculos caíam sempre ria e falava que era porque seu nariz era gordinho.

Juntas as duas Larissas eram imbatíveis, faziam jus ao significado de seus nomes: alegria; e compartilhavam assim os simples momentos da vida. Eram opostos que se completavam, Ying e Yang, Romeu e Julieta, queijo e goiabada.

Lala levou a amiga Lari para a igreja e mudou seu caminho, ela mostrou que existe alguém por trás de todas as coisas, e que no momento certo o que tiver para acontecer, vai acontecer; além disso, ensinou por meio do seu exemplo a amar e compreender o próximo, que nada é perfeito, e que tudo precisa ser visto com os olhos bons da alma.

Larissa foi alegria, felicidade, empatia, compaixão, solidariedade e amor; e deixou esse amor registrado no coração de todos que a conheceram e que hoje sentem gratidão por ter compartilhado suas vidas com ela.

Larissa nasceu em Piraquara (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 19 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela sogra e pela amiga de Larissa, Ritta de Cassia Barbosa e Larissa Ferreira Salmazo. Este texto foi apurado e escrito por Criles Monteiro, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 7 de junho de 2021.