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Laura Dias Gonçalves Antunes

1935 - 2021

Apaixonada por livros e viagens, foi com eles que aprendeu a ler e viver o mundo.

Laura nasceu na pequena cidade de Santa Rosa de Viterbo, no interior do estado de São Paulo, fazendo parte de uma grande família composta de 13 irmãos.

Ela saiu de casa muito cedo para trabalhar e, no percurso da vida, casou-se com Cyro, um professor primário como ela. Deste casamento que durou quarenta anos, vieram as filhas Jacy, Lauricy, Maricy e Nancy que só mais tarde percebeu-se terem nas letras iniciais de seus nomes na mesma sequência do alfabeto J, L, M N, como se fosse um hábito da profissão dos pais que tantas vezes devem tê-lo ensinado a seus alunos.

A família foi ampliada com o nascimento dos oito netos: Camila, Mariana, Pedro, Victor, Julio, Sofia, Cyro e João Antônio. Quando estes ainda eram criança, as suas férias de julho eram passadas em sua casa em Ribeirão Preto. Esse período, aguardado com ansiedade, era recheado de vivências que hoje povoam suas memórias como a comemoração do aniversário de Vó Laura no dia 18 e os diversos passeios que se estendiam até as cidades vizinhas como Brodosky e Batatais para conhecer a casa de Portinari.

Esta festa de aniversário era tão grande que, além dos bolos, brincadeiras e jogos, certa vez chegou até ter um trenzinho contratado para levar as crianças e demais convidados pelas ruas do bairro onde ela morava.

Era uma leitora voraz e, além de professora, trabalhou muitos anos como Bibliotecária no Colégio Metodista de Ribeirão Preto. Da mesma maneira que incentivava os alunos a lerem, o fazia com filhas inscrevendo-as ainda crianças como sócias da Biblioteca Altino Arantes, apresentando-lhes assim um mundo novo e curioso.

A filha Lauricy recorda com carinho: “Pelas mãos dela aprendemos a ler e gostar de poesias, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Herman Hesse, Julio Verne, Machado de Assis, José de Alencar, José Mauro de Vasconcelos, dentre muitos que fomos conhecendo e adquirindo o gosto pela leitura”.

Ela manteve seus hábitos de leitura e acompanhou a evolução tecnológica, curtindo ao máximo o leitor de livros digitais que ganhou de presente no seu último Dia das Mães e, a essa altura, já havia se tornado também uma incentivadora da leitura também junto aos netos. Atualizadíssima, gostava também do WhatsApp, Facebook e de assistir filmes na Netflix.

Laura gostava de ler o mundo de várias maneiras e uma delas era, com certeza, por meio de suas viagens. Nesta sede de ampliar conhecimentos, visitou o Chile, Paris, Londres e também Lisboa acompanhada de três das suas filhas mas, ao longo dos anos, devido à idade, teve as viagens encurtadas e restritas ao território do Brasil.

Ela era magrinha, com os cabelos brancos e muito lúcida. Morava sozinha no bairro da Mooca na capital paulista, perto de Nancy a filha mais nova.

Ela gostava das coisas sempre na sua hora e à sua maneira o que, às vezes, a tornava um pouco ranzinza, mas isso não apagou as memórias que ficarão para sempre gravadas nas pessoas que a amavam.

A educação proporcionada às filhas e o amor à leitura fizeram delas pessoas independentes o suficiente para seguirem sua vida com autonomia e gratidão pelo legado que receberam.

Laura nasceu em Santa Rosa do Viterbo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Laura, Lauricy Otavia Antunes. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Vera Dias, revisado por W. Barros Dantas Paniagua e moderado por Rayane Urani em 22 de julho de 2021.