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Leandro Codeço de Alvarenga Prazeres

1983 - 2021

Nas ocasiões em que acolhia os amigos em sua casa, caprichadva no serviço de mesa, utilizando louças finas herdadas de sua avó.

Leandro, não por ironia do destino, carregava em seu nome a assinatura Prazeres e é exatamente isso que ele despertava nos amigos Raphael, Leandro, Alexandre Toscano e Isabela Leal, com quem sempre ria muito e conversava sobre diversos assuntos numa troca muito proveitosa e informativa, por meio das quais sua inteligência era revelada através de brilhantes pontuações.

Por ser calvo, gordinho e de maneiras sofisticadas, era chamado de Chiquinho, numa analogia a um famoso herdeiro ou, então, de Porky e ele se identificou tanto com estes apelidos que, com o tempo, passou a se apresentar com um deles por onde circulava, fosse em Niterói ou em Campos de Goytacazes.

Raphael conta que sua ligação com Leandro nasceu instantaneamente quando a ele foi apresentado por um amigo em comum, no ano de 2010: “Em pouquíssimo tempo, já construímos uma grande amizade. De uma inteligência fora do comum, quando nos reuníamos, tínhamos conversas muito acima da média”.

E continua descrevendo o amigo: “Ele era alguém bem peculiar, de gostos refinados e poliglota. Eu me recordo bastante da sua voz muito grave, uma de suas marcas registradas. A primeira lembrança que me vem à cabeça é de nós dois conversando sobre cervejas artesanais em um bar”.

As recordações dos agradáveis encontros com Leandro surgem por meio de histórias engraçadas: “Passávamos diversos finais de semana com um grupo de amigos em uma casa, no litoral fluminense. Certa vez, a namorada do dono da residência estava lá; a moça tinha gostos muito diferentes dos nossos. Em um determinado momento, ela estava cantando um trecho de uma música que dizia: "Mamãe passou açúcar em mim". Ele na frente de todos, inclusive do proprietário do lugar, se virou para ela e espontaneamente fez uma analogia com a canção, que todos não se aguentaram e caíram às gargalhadas.”

Leandro, quando ainda na Faculdade, destacou-se tanto por sua inteligência que foi convidado para ser professor substituto enquanto ainda aprendia as matérias. Depois, tornou-se Mestre em Telecomunicações, foi aprovado em concurso e tornou-se um professor titular.

Nas horas vagas, gostava de passar o tempo jogando conversa fora e apreciando vinhos e cervejas diferenciadas. Quando recebia os amigos em sua casa, Leandro fazia questão de colocar à mesa as muitas relíquias que herdou de sua avó, como louças do período imperial e cristaleiras repletas de utensílios delicados.

Raphael continua falando sobre o que aprendeu com ele: “quando penso nele, o que me vem à cabeça é cerveja artesanal. Além de ter me apresentado ao universo das cervejas artesanais e também de bebidas diferentes, foi Leandro quem me apresentou esse mundo e, por causa dele, eu me tornei um cervejeiro profissional e também sommelier. Com relação às comidas, todas as vezes que nos reuníamos para conversar, nosso tira-gosto padrão era o presunto de parma. Ele também era um grande apreciador de charutos. Então, sempre carregava dois consigo: um para ele, outro para mim”.

Finaliza a homenagem ao amigo contando que antes de partir ele encontrou um grande amor e com ela, realizou o sonho que alimentava de ter uma namorada.

Leandro nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e faleceu em Campos dos Goytacazes (RJ), aos 38 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo amigo de Leandro, Raphael Braga. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Ana Macarini em 26 de agosto de 2023.