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Leandro Jorge Lima Del Aguila

1976 - 2020

Era um cara grande. E, era um grande cara.

Pense em um homem grande, brincalhão, que ajudava todos que conhecia, e os que não conhecia também. Chegava no local de trabalho chamando todo mundo, sempre animado.

Apaixonado pelo filho e por sua mãe, chamava atenção dos irmãos, sempre honesto, íntegro.

Pense em ótimas qualidades e lá estará ele. Que não tinha papas na língua. E a quem o filho chamava de amor.

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Um assobio.

— Benção mãe! Ôôôô de casa!!!

Era assim que Leandrão entrava na residência da matriarca da família Del Aguila, sempre bem cedo. Os quatro irmãos e irmãs logo levantavam as sobrancelhas, porque na sequência vinha um “Cadê o povo dessa casa? Está tudo ainda por fazer... cadê o café?”

A rabugice era passageira. Porque na rua principal do Conjunto Canaranas, no Cidade Nova 2, todos conheciam aquele alegre e brincalhão armário (de tão grande), que não perdia uma oportunidade para colocar apelidos carinhosos em quem quer que fosse. Ele e seu irmão tocavam juntos uma venda, na garagem da casa da dona Maria do Livramento, onde vendiam concorridos assados — frangos e peixes.

Leandro era muito cuidadoso. Ia ao mercado central em busca dos melhores produtos para vender em seu bairro, onde fazia-se uma fila de clientes, transformados em amigos pela mágica da sua simpatia. O talento para as vendas foi talhado nos 12 anos em que o corintiano fanático tocou uma banca de merenda no Terminal 3; já o cuidado vem desde cedo. Tendo perdido o pai, ajudou a criar os irmãos mais novos. Leva-os à escola e ajudava a cuidar da casa enquanto a mãe trabalhava. Por ela, aliás, tinha especial carinho: diariamente telefonava para ela às 6hs, acordando-a para seus exercícios diários.

Leandro viveu pela família, pela esposa e pelo filho. A casa — e a vida — dos Del Aguila são recheadas por lembranças dele.

Leandro nasceu em São Luís (MA) e faleceu em Manaus (AM), aos 44 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela mãe e pela irmã de Leandro, Leilane Socorro e Maria do Livramento. Este texto foi apurado e escrito por Rogério Zé, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de dezembro de 2020.