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Leonardo Rodrigues da Cunha

1982 - 2020

Todos deveriam ter um tio Leo na vida.

Esta é uma homenagem de Giseli para seu irmão, Leonardo:

O apelido carinhoso, pelo qual eu chamava meu irmão, era por causa das crianças. Tio Leo era dono de um coração gigante, o amor e a caridade faziam dele um ser especial e único. Tudo era feito por ele com muito afeto, era um irmão parceiro pra todas as horas, um tio maravilhoso, excelente filho, um pai sensacional e daquele tipo de amigo preocupado e cuidadoso. Uma pessoa sensata e honesta que, ainda por cima, tinha o dom de tocar o coração das pessoas.

Saxofonista, usava seu instrumento para servir a Deus, sua presença era constante em nossas vidas e, mesmo de longe, cuidava de todos. Desde criança sempre foi especial, diferente... era muito divertido e nunca me chamava pelo nome: era João, Janisfrania, Bahia, Trem, Marmota... Gisa, só se fosse algo trágico!

Posso dizer com clareza que, de tudo na vida, seu maior bem foi o seu filhinho Leonardo Benício, tão amado e desejado que Deus lhe enviou pra completar sua família como ele desejava tanto!

Leonardo amava a família e era querido por todos, tanto quanto na igreja como no trabalho, onde resolvia os "BOs", como costumava dizer. Em mais de uma década como gerente na CVC, ele pôde crescer profissionalmente e como pessoa também, realizando seus sonhos pessoais.

Uma vez, mudei a cor dos meus cabelos pela primeira vez e minha mãe ficou muito aborrecida, reclamando com ele pelo telefone, sem saber o que fazer. Após o trabalho, Leo me ligou e pediu que eu abrisse o portão, ele pegou um voo de São Paulo para Belo Horizonte e já estava na porta de casa, sem avisar, para acalmar a situação.

Era sempre assim, tentando abraçar todos, ser responsável por todos! Ajudava sempre, e isso era quase sempre feito no anonimato, pra ninguém saber.

Quando éramos jovens, ele estava com uns 16 anos, minha mãe trabalhava em uma clinica psiquiátrica perto de casa e, no Dia das Mães, Leonardo foi até lá sozinho, levando seu saxofone e pediu na portaria para que chamassem sua mãe. Era horário de almoço, então, enquanto ela se dirigia até lá, ele começou a tocar uma música do Roberto Carlos:

"Eu tenho tanto pra te falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você..."

Nem é preciso dizer que todos na clínica ficaram muito emocionados. Ele era assim! Foram diversas as vezes que ele nos proporcionou momentos como esse. Em seu último aniversário, veio para nossa casa novamente de surpresa. Foi a nossa despedida. O tema da festa foi o "Capitão América", com direito a tudo escolhido por ele mesmo. Naquele dia, conseguiu, numa situação quase inédita, juntar as duas famílias: materna e paterna. Só ele mesmo para um feito desses!

Ele queria realizar o sonho do filhinho e levá-lo à Disney. Chegou a tirar o passaporte com essa finalidade, mas partiu em outra viagem. Ficam conosco as lembranças daquele menino doce, carinhoso, com sorriso alegre, que nunca reclamava da vida; sempre trazendo leveza e carregando todo fardo sozinho, preocupando-se com os outros e deixando sua vida pessoal em segundo plano.

Meu melhor amigo, um filho, esposo e pai que eu vou sempre admirar. Leonardo foi um presente de Deus, tão especial que o Senhor o levou pra Ele. Já tinha seu lugar guardado nos Céus. Pena que foi tão cedo!

Leonardo nasceu em Belo Horizonte (MG) e faleceu em Barueri (SP), aos 38 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Leonardo, Giseli Maria Cunha da Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 15 de fevereiro de 2021.