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Leontino Araújo da Silva

1945 - 2020

Com a caneta atrás da orelha para uma eventual conta, atraía clientes com sua organização, confiança e educação.

Filho de Marciano Maurilo e Dona Tereza, que completara 96 anos, Leontino foi casado com Dona Antonina e, durante cinquenta anos, viveu uma linda história de amor. Eles tiveram seis filhos e treze netos. Estavam sempre juntos, nos afazeres domésticos ou nos passeios, nos cuidados e nas preocupações com a família, na generosidade e na alegria da casa. Nos últimos dias em que estava consciente, o filho Leon conta que o pai perguntava da esposa e pedia para dizer para ela ficar bem, porque ele estava.

Com os netos, gostava de brincar e contar histórias populares, folclóricas e lendas urbanas. “Ele levantava a calça até o estômago e convidava-os para dançar. Dava apelidos para os netos homens e as netas eram chamadas carinhosamente de ‘bonequinhas do vovô’”, lembra Leon.

Com alegria estampada no rosto, tinha um ótimo relacionamento com os 12 irmãos e os amigos. Gostava de brincar com os amigos trocando seus nomes, como um se fosse outra pessoa.

Outro prazer de Leontino era torcer para o Paysandu Esporte Club, por quem era apaixonado e um defensor incansável.

Leontino era muito conhecido e querido no bairro por conta de seu pequeno grande comércio, que vendia de tudo um pouco - de material de construção a gêneros alimentícios e armarinhos. Funcionava à moda antiga: com longas conversas no balcão, contas sem calculadora e vendas à prazo com registro apenas em caderno, que garantia a confiança e a admiração dos clientes.

Apaixonado pelo trabalho, dedicou boa parte de sua vida ao comércio. Era extremamente organizado, mantinha os produtos sempre separados e etiquetados com preços e tamanhos. A caneta tinha seu local cativo: atrás da orelha, para uma eventual conta que sempre era no papel. “Ele não gostava de calculadora e fazia questão de tirar a prova das contas. Uma de suas frases marcantes era ‘a melhor conta é feita no bico da caneta’”, recorda o filho.

A organização que mantinha no comércio era uma exigência de Leontino até nas casas dos filhos. “Quando ele chegava lá, se estivesse alguma coisa bagunçada, logo dizia: ‘Isso aqui está precisando de uma organização’”, não esquece Leon.

Humilde e sábio, Leontino reconhecia a importância da educação na vida dos filhos, netos, sobrinhos e amigos. “Ele era um defensor da educação. Nós morávamos no interior do Estado e viemos para a capital com o objetivo de estudar. Sempre dizia que ‘filhos de pessoas humildes só vencem na vida através da educação’.”

O incentivo e a generosidade eram tão grandes que Leontino e a esposa acolhiam em casa os parentes e amigos que moravam no interior e vinham estudar na capital. Sua meta era que os jovens não abandonassem os estudos.

As histórias e as lembranças são muitas. Os ensinamentos e os exemplos são infinitos. A saudade da família por esse ser especial, que tanto cuidou e valorizou a família, que espalhou alegria e generosidade é imensa.

Leontino nasceu em Igarapé-Miri (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Leontino, Leon Emerson Trindade Silva. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Denise Stefanoni, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 11 de junho de 2021.