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Leopoldo Benedicto Lagreca Semeghini

1936 - 2021

Construiu laços genuínos de afeto familiar, fosse em deliciosas viagens com sua amada esposa, ou no convívio carinhoso com filhos e noras; nunca economizou amor e atenção.

Seu Leo, como era chamado por quem o conhecia, não poupava uma prosa com toda a gente, sobre todos os assuntos. O jeito comunicativo talvez tenha facilitado a profissão e vice-versa. Ele trabalhou por longos anos até a aposentadoria como comprador do Metrô de São Paulo. Teve uma vida alegre e cheia de amigos.

Da infância na capital paulista, sua cidade natal, nutriu o amor por Rosa Maria, uma colega de escola no bairro da Água Branca que se tornou a companheira de vida. Juntos tiveram os filhos Ricardo e Renato, que lhes deram ainda três netos. Quando um deles, Mamo, foi jogar basquete na Itália, seu Leo não perdia nenhum jogo e assistia a tudo pelo YouTube. Vibrou pela neta Clara ao entrar na faculdade de História na USP e por Bella, que se mudou para Londres e a quem ele incentivou a conquistar novos horizontes.

“Seu Leo sempre foi um cara correto, que adorava basquete e vibrava com viagens e gastronomia”, conta a nora Lilian. Viajou para muitos lugares com a esposa, trazendo na bagagem histórias dessas aventuras que ele contava com detalhes, em lembranças que renovavam o convívio afetuoso e respeitoso do casal. Guardou memórias, fotos, bibelôs e mostrou sua paixão por Rosa Maria inclusive quando o destino já o havia deixado sozinho.

Ele apreciava comer e declarava ser esse um dos seus maiores prazeres. Buscava experimentar pratos diferentes e elogiava a comida que era preparada para ele. Degustava bons vinhos e lhe fazia bem saber que podia dividir isso com amigos que entravam e saíam de sua casa. Assim também era com os sobrinhos, muito próximos dele. Sempre que chegava a data de seu aniversário, pensava numa forma de comemoração que juntasse a família em volta de uma mesa, como a feijoada que emocionou a todos pelas declarações de afeto que a ele eram dirigidas nas falas e histórias que cada um contava sobre seu Leo. Nas descrições, as palavras querido, amigo, verdadeiro, brincalhão, honesto, amoroso se sobressaíam.

À vida alegre e cheia de amigos agregou o esporte. Era torcedor fervoroso do Corinthians, assistia a partidas de basquete, jogava tênis e esteve sempre em movimento até que suas articulações apresentassem alguns problemas que o levaram a depender de uma bengala para se locomover. Apesar disso, nunca parou, nem depois da viuvez. Preservava seu entusiasmo, fazendo natação, fisioterapia, caminhadas na esteira e pedaladas na bicicletinha que adaptou.

A integridade da memória e a desenvoltura para as conversas ainda facilitaram sua imersão na tecnologia dos aplicativos, que ele utilizava inclusive para as videochamadas frequentes com os amigos e a família. Por ser uma pessoa tão bem-humorada e brincalhona, criava expressões – tais como "três na mosca!" – que viravam o motivo de ligações entre ele, os filhos e os netos, muito frequentemente mais de uma vez ao dia. As noras, Cy e Lilian, não ficavam de fora e tinham um lugar especial, “nós éramos cumprimentadas sempre com um ‘oi, linda’”, conta uma delas.

Ele pegava no pé, tirava sarro e não largava quando percebia que alguma coisa incomodava alguém. Depois contava para todo mundo. Seu Leo viveu a vida, conviveu de verdade com as pessoas, oferecendo seu carinho; riu e fez rir tantas vezes. Ele se foi apenas um dia após completar seus 84 anos, deixou muita saudade, e, onde quer que ele esteja, pensa em sua família e diz "três na mosca!".

Leopoldo nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela nora de Leopoldo, Lilian Franco. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 10 de maio de 2023.