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Leudetes dos Santos Cavalli

1942 - 2020

Dete era uma mulher solar, cheia de vida. Seu sorriso era o centro de sua constelação familiar.

Dona Leudetes viveu para ensinar aos seus o que era o amor e recebeu esse sentimento de volta com o maior prazer. Dete, como era carinhosamente chamada por todos, era uma mulher solar, sempre cheia de vida. A sua maior satisfação era estar rodeada pelas pessoas que a amavam. Ela não recusava um convite para qualquer festa que fosse e nelas não costumava ficar sentada: sempre dançava. Eternamente jovial, quando o funk passou a ser a trilha sonora das comemorações, já na melhor idade, ela provava que não havia ritmo que não a agradasse.

Durante a juventude, Leudetes conheceu o marido que esteve ao seu lado ao longo dos anos. Ele estava namorando à época, mas foi paixão à primeira vista: ele mandou uma carta a ela que dizia “embaixo da macieira, sobre o orvalho, encontrei o meu amor.” Pouco tempo depois, aos 18 anos, se casaram e ficaram mais de 60 anos juntos. Aos 78 anos de idade, ao completarem bodas de diamante, ela realizou um sonho e entrou novamente na igreja, como noiva, para se casar com amor de sua vida.

Não havia uma pessoa que não simpatizasse com ela. Assim como ela foi amada na família, também foi amada na escola em que trabalhou como merendeira. Era doce e sempre trazia um sorriso no rosto.

A sua casa expressava as suas melhores qualidades e tinha um encantamento especial. Era aconchegante, aquecida por um fogão a lenha, no qual Dete preparava receitas que juntavam toda a sua numerosa família: todos os descendentes eram atraídos por seu perfume doce, como são os colibris pelas flores. Tinha nas mãos o dom de fazer gostosuras, e todos os aniversariantes da família sopravam as velinhas, sobre o seu clássico bolo, de morango, com suspiros.

A máquina de costurar dava o tom de toda a sua generosidade: todos filhos, netos e bisnetos se vestiam, quando bebês, com roupas feitas por ela. Além disso, ela conservava a tradição de sempre batizar todos os seus descentes na sua própria casa: com um ramo de arruda e uma vela branca, ela dava as boas-vindas a todos os recém-chegados de sua família. As inúmeras plantas, por sua vez, além de seus animais de estimação, demonstravam toda sua vivacidade.

Para Leudetes, não havia dias nublados. Cada segundo vivido era motivo de felicidade e o seu sorriso era o centro da sua constelação familiar: todos viviam a sua volta, atraídos pelo seu afeto sem fim.

Leudetes nasceu em Colombo (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Leudetes, Ariana Fernanda da Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lucas Rangel, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 10 de maio de 2021.