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Líbero Orsi

1946 - 2020

Ensinou que era importante deixar sempre acesa a chama da alegria.

A primeira lembrança que a maioria das pessoas que conviveu com ele vai ter, é o sorriso escancarado e a alegria de Líbero.

Descendente de italianos, era dessas almas generosas, que onde chegava parecia contagiar todos com seu jeito positivo de ver a vida e o mundo. Parecia mesmo espantar e afugentar qualquer tipo de tristeza ou dor que resolvesse colocar-se no caminho — ele era assim.

Construiu sua família com Orlanda, a "Landa", descendente de espanhóis. O casal viveu no Bairro do Limão, zona norte de São Paulo e teve quatro filhas, quatro netos e uma neta.

Seu gosto pela mesa farta, seu entusiasmo pelo Palmeiras, time do coração e pela Mocidade Alegre, a escola de samba do seu bairro, serão sempre inesquecíveis.

Do mesmo modo, era um pai cuidadoso com cada uma de suas filhas e um dedicado e amoroso esposo. Seus últimos anos foram dedicados, com a mesma atenção e amor, aos netos, que eram sua paixão.

Com sua família e seus amigos viveu os seus melhores momentos.

A mesa era o lugar onde se comia e se bebia de tudo, mas muito mais do que comida e bebida, ali se partilhavam a alegria e a própria vida, sempre tão bela e sempre tão frágil. A mesa parecia, para ele, um pretexto para reunir pessoas, partilhar as alegrias, o dia a dia e, até mesmo, as dores que todos nós temos e carregamos.

Todos estes traços deixam um imenso vazio... Que a sua alegria continue a inspirar todos que conviveram com ele.

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Nas ruas do bairro do Limão, era o velhinho que estava sempre de boina. Para a família, era o bebezão manhoso.

Libero nasceu no dia primeiro de maio, Dia do Trabalho. A data, com certeza, não foi mera coincidência. Já anunciava a pessoa trabalhadora que seria. Batalhou por muitos anos como metalúrgico para poder desfrutar de uma merecida aposentadoria.

“Veinho”, como era chamado, carinhosamente pela família, era casado com a dona Orlanda, sua companheira de toda a vida. Juntos, comemoraram bodas de ouro em 2019, com uma festa linda e emocionante. Desse amor, nasceram as filhas Elaine, Elisabete, Angela e Erika. Elas, por sua vez, os presentearam com cinco netinhos e genros muito queridos.

Descendente de italianos, herdou um jeitão típico de falar alto e grosso. Mas essa casca exterior, na verdade, escondia um homem chorão e muito amável. Amava sua Itália, que nunca chegou a conhecer, porque tinha um medo terrível de andar de avião. Achava que poderia até infartar! Mas a música italiana bastava para ele se reconectar com as origens e deixá-lo emocionado.

No bairro do limão, em São Paulo, já era figurinha conhecida: um senhor gordinho, de cabelos grisalhos e sempre de boina. Passeava pelo bairro como se fosse seu dono. O seu cotidiano era visitar os mercados e as lotéricas.

Tinha um time do coração, o Palmeiras, e ficava muito nervoso quando a bola entrava em campo. Sua outra paixão era a Mocidade Alegre, escola de samba, para a qual torcia rigorosamente. Mas nenhuma dessas paixões superava o amor pelos netos, que eram tudo para ele. Por eles, dava a vida e fazia questão de estar presente em todos os momentos. Com certeza, sofreu muito ao deixá-los.

“Éramos uma família muito unida e o cordão umbilical ainda não tinha se rompido. Então tudo lembra ele: os almoços de domingo, as viagens à casa do interior, os pães que fazia para a família e o jeito alegre e sorridente que levava a vida. Ele amava viver e tinha medo de morrer. Infelizmente, teve que encarar sozinho, os 18 dias de hospital, sem um abraço, uma mão e o calor humano de seus familiares. Teve aquela morte que não foi digna de uma pessoa que foi extremamente certa, a vida toda”, conta a filha Erika.

Homem de caráter e índole sem iguais, para a família era um bebezão manhoso. Lutou bravamente contra essa doença, mas Deus quis ter sua companhia no Céu e o levou.

Os familiares e amigos estão sofrendo demais com essa partida brusca e solitária. A saudade aumenta a cada dia e essa pequena homenagem foi a forma que encontraram de mostrar, ao seu veinho, como ele foi amado em vida e como nunca será esquecido. Estará sempre presente no coração de todos que tiveram a sorte de conhecê-lo.

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Meu pai foi metalúrgico serralheiro e adorava bater perna por aí, fazer compras e ajudar a todos. Conversador e excelente pai, era apaixonado pela sua família, pelo Palmeiras e pela Mocidade Alegre!

Melhor marido, pai e avô do mundo! Com todo seu carinho, respeito e amor, foi bom para todos que conheceu.

Líbero nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 74 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo primo e pelas filhas de Líbero, Marcio Gimenes de Paula, Erika Orsi e Elisabete Orsi. Este tributo foi apurado por Cairo Martins e Carla Cruz, editado por Alessandra Capella Dias e Maria Alice Freire, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de novembro de 2020.