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Lina Marta Leistner

1950 - 2020

Com seus dedos caprichosos escrevia receitas como se fossem poemas e acolhia em seu colo quem dela precisasse.

“Mãe Branca”, sua vida nesse plano terrestre terminou, mas a sua memória permanecerá viva no coração da sua “fia preta”. De todos os amores que já senti, nenhum é como aquele que nos uniu, amor este que não veio do seu ventre, mas era como se fosse, pois nossa ligação sempre foi muito forte.

Nos conhecemos na porta de um hospital, quando seu filho havia sofrido um atropelamento. Lembro-me de seu primeiro olhar e primeiras palavras dizendo que eu era muito bonita e que o “fio” o então meu namorado à época, tinha muito bom gosto e que havia ficado feliz em me conhecer, mesmo naquelas circunstâncias.

A partir daquele momento, nunca mais deixamos de nos ver, e mesmo que seu filho e eu tenhamos tomado caminhos diferentes, nós nunca nos separamos. Ela se tornou a minha “mãe branca” e eu a sua “fia preta”.

Construímos uma linda amizade, baseada em cumplicidade, admiração e carinho. Ela foi uma amiga disposta a escutar, entender e dar palavras de conforto em diversos momentos de minha vida. Sua generosidade e empatia pelo próximo eram características ímpares de sua personalidade, sem contar aquele sorriso cativante que fazia qualquer pessoa se sentir especial.

Quantos momentos agradáveis passamos juntas, ela também tinha o dom de fazer comidinhas deliciosas para demostrar seu afeto aos amigos e familiares. Lembro-me que fizemos juntas meu primeiro caderno de receitas, escrito e inspirado no apreço e capricho que ela demonstrava ao registar suas preciosas receitinhas.

Além dessas virtudes, a “mãe branca” era muito divertida, alegre e boa ouvinte, qualidades marcantes de sua personalidade nata, que a tornavam um ser humano inigualável, capaz de confortar a dor emocional de qualquer um que a procurasse para conversar.

A imensa saudade que sinto por você “mãe branca” só revela a importância que teve em minha vida e onde quer que esteja, seu olhar fraterno de ternura continuará marcado em meu coração. Gratidão eterna!

Lina nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela amiga de Lina, Andréia Camargo. Este texto foi apurado e escrito por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 15 de abril de 2021.