1956 - 2021
A coragem a fez superar as derrotas sem perder o ânimo; a força e a solidariedade a tornaram uma referência.
Alagoana de Arapiraca, Lourdes Peixoto da Silva, desde muito cedo foi uma mulher forte, corajosa, e essas características a constituíram numa referência entre os familiares quando já adulta.
A filha Janaína, que a homenageia com este tributo, lembra que a mãe vivia muito à frente da sociedade em sua juventude. “Ela contava que naquela época não podia usar calça ou andar de bicicleta, que a menina não era considerada mais moça, mas minha mãe não tinha medo do que os outros pensavam”, ilustra. Com personalidade forte, Lourdes era alvo dos irmãos, posto que ela os enfrentava com coragem.
Ainda em Alagoas, Lourdes conheceu Eraldo Ferreira da Silva, que seria o seu companheiro da vida e pai de suas filhas Alekssandra e Janaína. O casal, apostando na felicidade, deixou Arapiraca pra trás e se mudou para São Paulo. “Juntos, enfrentaram dificuldades”, diz a filha.
Logo que chegaram à capital paulista, Lourdes engravidou. Tendo o sonho de um dia voltar à terra natal, a alagoana de personalidade forte foi se tornando uma fortaleza e um porto seguro para os nordestinos das famílias dela e do marido. “Toda sua família, a família do meu pai e até desconhecidos passaram pela nossa casa. Era como um albergue, que acolhia os familiares que apostavam em um futuro mais promissor”.
Sempre bondosa e caridosa, acolheu com todo amor e carinho familiares e quaisquer pessoas que necessitassem de ajuda em sua casa, jamais medindo esforços para oferecer guarida a todos, revelando a grande mãe, amiga e parceira que sempre fora.
“Ela teve uma participação especial no início da vida de muita gente; possuía uma das qualidades mais lindas que se pode ter, e isso ninguém pode negar: ela ficava imensamente feliz ao ver as pessoas crescendo e se dedicava a todos em todos os momentos, fosse na alegria ou na tristeza, sempre presente para estender a mão e aconselhar”, conta a filha caçula.
Com o tempo, algumas dessas pessoas conseguiram realizar seus sonhos e viraram as costas para quem as acolheu. “Minha mãe, como era mulher de personalidade, falava o que pensava e, por isso, ganhou alguns inimigos. Mas depois de sua morte, todos disseram que ela era uma grande mulher”, recorda, com tristeza, Janaína.
Lourdes ia alimentando o sonho de retornar à Arapiraca da infância por toda a vida. O retorno foi muito difícil. “Meu pai queria voltar, mas não tinha coragem. Então minha mãe voltou para ajudá-lo a voltar. Ela sempre foi uma mulher decidida e destemida”.
Em 2016, Lourdes e Alekssandra voltaram para o Nordeste. Janaína fez o caminho da mãe e da irmã dois anos depois, quando terminou o doutorado. Foi o pingo que faltava para encher o copo e o pai também voltar à terra natal. Desde 2019, a família tornou a viver reunida, desta vez em Alagoas. Foi lá que Lourdes concretizou mais um sonho: o de ser avó do menino Isaac, filho de Alekssandra.
“Em Arapiraca, continuou sua vida como pessoa simples, amável, humilde e generosa com todos que conviviam ao seu redor. Mulher de fé, deixou o bem mais precioso para a sua família: os ensinamentos de Jesus Cristo. Nós, familiares, nos consideramos pessoas de sorte por ter vivido com uma mulher tão virtuosa”, resume a filha.
Janaína lembra que a mãe era uma artista. Tudo o que ela fazia com as mãos era perfeito, diz. “Sempre com muita luta ela encarou aprendizados na vida, fosse curso de cabeleireiro, costura, crochê, bordado; infelizmente, nada deu certo como atividade profissional, mas isso não impede que a gente lembre dela como uma mulher virtuosa e forte, amorosa e caridosa, a mais guerreira que conheci”, finaliza a filha.
Lourdes nasceu em Arapiraca (AL) e faleceu em Arapiraca (AL), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Lourdes, Janaína Peixoto da Silva. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 26 de outubro de 2022.