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Luciano Bueno dos Santos

1944 - 2020

Engenheiro que ria alto e amava muito a vida e os quatro filhos, sua "escadinha".

Luciano não era homem de ficar parado. Ele estava sempre em movimento, fazendo as coisas acontecerem. Engenheiro mecânico formado pela Faculdade Brás Cubas, em Mogi das Cruzes, sozinho construiu a primeira casa da família, tijolo por tijolo.

Eram meados dos anos 60 e ele já estava casado com a Maria de Fátima. Moravam nos fundos da casa da mãe e era hora de dar um lar novo para as crianças que começavam a chegar. Uma escadinha. Era assim que ele se referia aos quatro filhos: "minha escadinha".

Nessa época, Luciano já trabalhava na, ainda incipiente, indústria automobilística do ABC paulista. O primeiro e único emprego foi na Vemag. Era desenhista da fábrica e, assim continuou, quando a empresa foi incorporada pela Volkswagen. Trinta anos de trabalho dentro da mesma empresa. E ele aproveitava todo o tempo livre para estar com a Maria de Fátima e com o Flávio, o Lucio, a Luciana e o Sandro, a sua escadinha.

Adorava viajar e dirigir. E não adiantava dizer que o Fusca já estava ficando apertado com tanta criança e bagagem. Ele ria alto e ia feliz, dirigindo quilômetros e mais quilômetros sem perder o bom humor. E ai de quem o fizesse perder o humor. Era melhor nem arriscar. Luciano era um pai amoroso – mas exigente e firme quando era preciso.

Se estava em casa, também não ficava quieto. Construía uma parede que faltava, arrumava um móvel quebrado e consertava o que precisava de remendo. Ajeitando o que fosse, com as próprias mãos.

Foi duro deixar para trás a casa do Parque São Lucas, na zona sul de São Paulo, que abrigou tantos sonhos e desventuras. Mas a grande e bela casa em São Bernardo do Campo, na região metropolitana da capital, compensava a troca. Era o fruto saboroso de tanto esforço e trabalho. E serviu de cenário para aqueles que foram, segundo o filho Lucio, os melhores anos da vida do pai.

Ali ele recebia generosamente os amigos, com uma risada marcante que, sozinha, fazia todos rirem com ele. Contava histórias engraçadas, piadas entremeadas de um sem fim de palavrões, para dar autenticidade ao apelido que ganhou – o “Boca Suja”. Pensa que ele se importava? Nada, ria ainda mais alto.

Aposentado da fábrica de automóveis, o engenheiro Luciano nem cogitou parar de trabalhar. Criou sua própria empresa, a Tecno Projetos. Foram dez anos de dedicação, prestando serviços na área de engenharia, como amava fazer.

Não é que ele quisesse parar. Mas o corpo já dava sinais de que era tempo de descanso, de aproveitar mais a família e a casa – sempre cheia de amigos. Luciano passou seus últimos anos assim, cercado de cuidados e rodeado pelos amigos e pela família que ele tanto amou. Deixou seis netos, duas noras, dois genros, a Maria de Fátima e uma inconsolável escadinha.

Luciano nasceu em Dois Córregos (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Luciano, Lucio Vasconcelos dos Santos. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Cristina Piasentini, revisado por Lígia Franzin e moderado por Cristina Piasentini em 18 de agosto de 2020.