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Lucilene Faustino da Silva Souza

1967 - 2020

Já doou o próprio fogão a um desconhecido, tamanha era a sua bondade com o próximo.

Com seu cabelinho castanho claro e seu vestido de flor bem soltinho, carregou o amor por sua família, suas clientes e por quem precisasse de ajuda.

Começou a trabalhar ajudando sua mãe na roça, vendia bananas na feira, foi professora, manicure e costureira. Aprendeu a costurar cedo e desenvolveu sua habilidade com uma oportunidade de emprego em que pode aprender e aprimorar o que já sabia e por lá ficou por vinte anos, saindo para montar seu atelier. Desde então não parou com a costura e era conhecida como Lu costureira. Trabalhava todos os dias da semana sempre com o objetivo de que suas clientes ficassem satisfeitas com o resultado e algumas delas retribuíam a gentileza com agrados e uma tarde inteira de prosa. Eram recebidas com amor e carinho.

Receber pessoas também em sua casa era uma de suas especialidades, desde seus parentes a pessoas que simplesmente estavam precisando. Em uma dessas ocasiões, atendeu um homem que perguntou se ela teria um fogão para doar, pois ele estava precisando. Como ela e a filha estavam morando juntas, na casa haviam dois fogões e Lucilene não hesitou em atender ao pedido. Quando questionada por sua filha, ela respondeu: “minha filha, eu senti no coração! E não tem nada, não; depois nós trabalhamos e compramos mais, vai ver que ele estava precisando mais do que nós”.
Isso conta sua filha, relembrando esse momento com alegria e destacando que sua mãe fazia o bem sempre que podia, com bonitos gestos. O que combina com o primeiro verso da música que ela mais gostava, Folha seca, do Amado Batista: “Fazia um dia bonito quando ela chegou".

E era com gestos bonitos que vivia sua vida, sempre muito esforçada e determinada, Lucilene tomava a frente do que precisava ser resolvido para sua família e no final conseguia atender ao esperado, por isso era considerada o pilar da casa.

Tinha um amor na sua vida, sua neta Clarinha, que foi criada com sua ajuda. Sua única filha descreve o amor e a ligação entre as três como algo que não “tem como comparar” tamanha a cumplicidade entre elas.

Dentre tantas habilidades, a comida gostosa também fazia parte. O macarrão estava entre seus prediletos, assim como o arroz com frango e abóbora tão apreciado por sua filha.

Dentro do coração de Lucilene tinha amor, não havia espaço para sentimentos de natureza diferente. Aliado à sua teimosia e determinação traçou um caminho acolhedor, cuidadoso e bondoso.

Lucilene nasceu em Pernambuco (PE) e faleceu em Barreiras (BA), aos 52 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Lucilene, Claudilene da Silva Souza. Este tributo foi apurado por Samara Lopes, editado por Hortência Maia, revisado por Walker de Barros Dantas Paniágua e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.