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Luís Henrique Ceruti Ferreira

1985 - 2021

Assistir aos jogos do Verdão com os amigos, sozinho ou pelos estádios do Brasil era sempre um acontecimento.

Os pais de Luís, Shirlei e Gilson, conheceram-se em Vilhena, no estado de Rondônia, para onde haviam se mudado em busca de um futuro melhor. Naquela época, a cidade ainda estava sendo fundada e tinha poucos recursos. Por esse motivo, Shirlei deu à luz a Luís na cidade paulista de Mirandópolis — terra natal de Gilson.

Foi um filho carinhoso, um irmão sempre presente, um tio que muitas vezes fez o papel de pai para os sobrinhos Victor, Matheus e Guilherme, jamais medindo esforços para vê-los felizes. Era paciente e participativo na vida dos meninos, brincava com eles, cuidava com carinho, ajudava nos deveres da escola, levava nas consultas médicas, na escola, se preciso, nas viagens de férias e nos passeios que tantas vezes fez com a esposa Luciane, que diz: “Sempre fez tudo que pôde por eles. A saudade, desses e de tantos momentos, ainda dói em nossos corações”.

Luís sempre foi muito ligado à família, muito preocupado com todos os entes queridos, ainda mais depois do falecimento da mãe, em 2009. Em Manaus, onde morava, ele tinha apenas um irmão; então, sempre que podia, viajava para Vilhena ou Mirandópolis para rever a família.

Conheceu Luciane na faculdade e viveram juntos por quase dez anos. “Era um marido sempre muito cuidadoso, protetor, atento, presente e me fez muito feliz durante todo o tempo em que estivemos juntos. Ele era — ele é — o meu grande amor. Com ele vivi os melhores anos da minha vida, de união e cumplicidade!”, diz ela com carinho.

E continua: “Nós dois tivemos muitos momentos especiais, mas o que mais me marcou foi o nosso casamento no Civil, na sala de casa, pouco mais de dois meses antes de ele falecer. Foi um momento muito feliz para nós, e vai ficar para sempre na minha memória e em meu coração. O nascimento dos nossos sobrinhos também foi um acontecimento importante que vivemos juntos”.

Luís morou em Vilhena até a juventude, quando passou no concurso da Marinha e foi trabalhar em Manaus. Na sequência, aos 19 anos, foi aprovado em outro, do Tribunal Regional do Trabalho. Ali trabalhou de forma exemplar durante quinze anos e em 2015 passou a atuar por teletrabalho, prestando assessoria aos juízes.

Formado em Direito, ministrava aulas em cursos técnicos e, junto com um amigo, fundou um preparatório para OAB. Era muito querido pelos alunos. Possuía uma pós-graduação em Direito Tributário e estava se preparando para ingressar no mestrado.

Nas horas vagas, gostava de sair para comer pizza e sushi, conversar com amigos e ir ao cinema. Amava viajar, conheceu quase todo o Brasil, boa parte da América do Sul, os Estados Unidos e estava se preparando para realizar outra viagem. "Era um dos sonhos dele, mas Deus o chamou!".

Luciane revela várias facetas da personalidade de Luís. Conta que "era um amigo fiel de muitos amigos e fiéis parceiros de longos anos, que sentem muito a sua partida tão precoce". E que "estava sempre brincando quando se reunia com eles para assistir aos jogos do seu amado Verdão, sofrendo e torcendo com paixão; outras vezes, dependendo da emoção, assistia sozinho ou viajava para assistir aos jogos, num amor sem medidas pelo Palmeiras".

Ela rememora preferências, sonhos e ensinamentos do marido, contando:

“A nossa música com certeza é 'Apenas Mais Uma de Amor', do Lulu Santos, que ele mandava trechos para mim, por mensagem, quando nem namorávamos ainda e, na época, também não existia o aplicativo no celular. Toda vez que eu ouço essa música as lágrimas caem, porque me lembro do início de tudo.”

“Passei muito tempo sem comer pizzas depois que ele faleceu, porque era o que ele mais gostava de comer; assim como sushi...”

“Meu amado Luís tinha o sonho de ser pai e estávamos programando para o ano em que ele faleceu. Infelizmente não conseguimos realizar. Também queria conhecer a Itália, que estava nos planos para 2021 e não puderam ser concluídos.”

“Luís deixou como ensinamento o valor da humildade, da bondade, da amizade, do carinho com o ser humano. Ele sempre foi muito obstinado nas coisas que queria, lutou muito para ter suas conquistas, sempre foi muito esforçado, estudioso, foi inclusive premiado como o melhor aluno das turmas de Direito.”

Concluindo, Luciane diz: “Era bom filho, irmão, genro, tio e esposo. Luís me deixou muito mais que saudade. Deixou a certeza de que eu pude viver um grande amor, que se perfaz agora na eternidade. Que privilégio eu tive de conviver e aprender com ele, durante tantos anos”.

“A saudade é enorme e constante, mas o amor não morre: continua vivo nele, em mim e em todos que o amarão para sempre. Cremos que o nosso tão querido Luís descansa agora ao lado do nosso Pai e que um dia todos nós nos reencontraremos para vivermos juntos na eternidade.”

Luís nasceu em Mirandópolis (SP) e faleceu em Manaus (AM), aos 35 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Luís, Luciane Reis Ceruti. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 16 de novembro de 2023.