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Luiz Carvalho Bertholdo

1947 - 2020

Possuía três nomes: Luiz, Bolivar e Artista.

Luiz: um sujeito híbrido. Foi composto por elementos que divergiam, mas, com toda a sua sabedoria, fez com que eles se complementassem para agregá-lo.

Continha uma serenidade ímpar, contudo adotou posturas enérgicas em grande parte de suas decisões. Serviu ao país como um grande policial rodoviário federal, mas na verdade, nasceu artista. Água e óleo não se misturam — até hoje — porque Luiz nunca tentou mesclá-los. Ele desfrutava dessa habilidade de "unir todas as coisas" e fazia o mesmo com sua gente.

Sua solidariedade encantava gerações. Ninguém poderia chegar perto de Luiz para se queixar de algo, sem deixar de receber uma palavra capaz de aconchegar o corpo e a alma. Ele emanava conselhos que abraçam.

Aliás, muitos nem sabiam que o nome de Luiz era Luiz. Para os seus, Luiz foi Bolivar. O apelido surgiu durante uma partida de futebol. Ele torcia fanaticamente por um dos maiores clubes de futebol do Maranhão, fundado por "Bolívia Querida". Quando tocava na bola, os colegas lhe diziam: "Chuta no gol, Bolivar".

O mais velho de seis irmãos, ocupava uma posição de liderança na família. Ascendia, em todos os corações presentes, enormes alegrias, aos domingos na casa de Engrácia e Jonas, seus pais.

E haja poeta e poesia para falar naqueles que conceberam Bolivar. Engrácia e Jonas partiram desse mundo, mas jamais se ausentaram da memória e orações do filho que, todos os dias, às 12 e às 18 horas, dirigia-se até o quintal para rezar e conversar com os dois.

O maranhense, carregava na identidade e no peito, a paixão pelo "Bumba meu boi", símbolo da cultura popular de seu estado.

Artista faz arte. Com Bolivar não seria diferente: seu espírito criativo se dispersava por toda a ilha de São Luís, manifestando-se em cores e "toadas".

A grandiosidade de seu amor pelo "Bumba meu boi" impediu Luiz de permanecer apenas um "brincante". Ele direcionou o sentimento e usufruiu de seu talento para compôr canções. Uma delas foi gravada: "Lua Maravilhosa", do Boi Pirilampo.

"Em dia de São Marçal, 30 de junho, no bairro do João Paulo, todos os bois se encontravam. Bolivar estava lá todos os anos. Participou da diretoria da tradição e incentivou a prática. Os brincantes que o conheciam estão de luto", conta a irmã, Rosângela.

Gratidão por você ter sido um homem tão dedicado aos irmãos, sobrinhos, filhos e esposa. Esperamos que você esteja ao lado da sua "Lua Maravilhosa", que beija o mar.

Luiz nasceu em São Luís (MA) e faleceu em São Luís (MA), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo sobrinho de Luiz, Marcos Fernando Bertholdo Oliveira. Este tributo foi apurado por , editado por , revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de junho de 2020.