Sobre o Inumeráveis

Luiz Daniel Guimarães

1942 - 2020

Andava pelos quatro cantos da cidade em busca de promoções e ofertas nos supermercados.

Curitibano de nascimento e criação, Luiz fez a vida como funcionário da Secretaria da Agricultura do seu estado de origem, que, por ossos do ofício, acabou conhecendo como a palma da mão. O trabalho como fiscal estadual o obrigou a viajar e percorrer cada cidadezinha do Paraná. O vaivém profissional talvez até tenha estimulado seu gosto por viagens de férias e a passeio. Frequentemente programava-se e aproveitava o lazer com a família em hotéis-fazenda e outros locais.

Depois de aposentado, além de pajear a neta e resolver tudo para ela, habituou-se com as idas aos supermercados. Procurava uma promoção aqui e acolá e inclusive dirigia para o outro extremo da cidade, se necessário fosse, "para conhecer um mercado diferente", relata Ana Carolina, criada por ele por conta da separação dos pais. “Meu avô fazia tudo para mim, era a ‘minha babá’. Brincava de boneca comigo, me buscava na escola, passeava, levava para todo lugar”, relembra ela emocionada.

De natureza agradável e fácil convivência, casou-se bem jovem com uma vizinha de bairro, Alciomar. Curiosamente, quando eles se conheceram, nos arredores de casa, de imediato não simpatizaram um com o outro. A aproximação dos dois aconteceu depois de Luiz perder a mãe e Alciomar observá-lo com mais empatia. A união, durante quase sessenta anos, fez nascer o único filho, Luiz Daniel Júnior, falecido precocemente. Os caminhos da vida, no entanto, não permitiram que a celebração das bodas de diamante acontecesse.

Foi com a boa culinária da esposa que literalmente nutriu uma das suas grandes paixões: comer bem. Ele até sabia cozinhar, porém rendia-se facilmente aos quitutes preparados pela companheira. Luiz apreciava todo tipo de comida, particularmente as mais caseiras. Dobradinha, rabada e as massas estavam entre as preferidas. Juntos, Luiz e Alciomar sempre inventavam novos pratos, e a aquisição dos ingredientes tornava-se um grande passatempo!

Bem-humorado e sempre sorridente — mesmo quando a saúde debilitada o manteve acamado —, Luiz fazia piada de tudo e com todos. Ana Carolina enfatiza que o avô tinha a capacidade de olhar com leveza e buscar graça inclusive nos momentos ruins. “Ele sempre teve um bom humor invejável".

Luiz nasceu em Curitiba (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Luiz, Ana Carolina Cavassim Guimarães. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Fabiana Colturato Aidar, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 17 de janeiro de 2022.