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Luiz Paulo Viana

1955 - 2020

Nos almoços de domingo, preparava um banquete, conversando com a esposa e os filhos. A cozinha era dele.

Esta é uma carta da esposa, Delia e dos filhos: Luiz, Clara e Jazmin para Luiz Paulo:

“Quantos morrem naquele que morre?”

Morre o pai, marido, filho, amigo, tio, padrinho, vizinho... uma infinidade de representações e quereres diferentes, mas também morre a gente, que cresceu ali naquele abraço, naquele carinho, naquele amor imensurável.

Sexta-feira, 08 de maio de 2020, o melhor pai e marido perdeu uma guerra. Encerrou sua participação neste mundo numa tarde de sol estonteante.

Nosso pai era um ser humano extraordinário, ajudava todo mundo dentro de suas possibilidades, sempre tinha um sorriso no rosto, nunca estava cansado, agradecia todo dia pela vida e vivia o que ele pregava. Foi um marido amoroso, pai presente e, por vezes, muito coruja, tão coruja que muitas vezes os filhos não entendiam, porém tudo que ele queria era proteger seus filhos desse mundo cruel.

De agora em diante ficam as lembranças de andar na corcunda dele, de viajar para Argentina e Paraguai no Opala, dele ensinando a gente a cozinhar, a tratar bem as pessoas não importando sua classe social, dos incansáveis filmes de faroeste e do Steven Seagal que ele fazia a gente ver "over and over again" (várias e várias vezes), da felicidade dele no nascimento de cada filho, do amor e cuidado imensurável que ele sempre teve pela esposa, do carinho que ele tinha com os amigos, com o jardim, com os animais... Tudo vai fazer lembrar ele. Os almoços de domingo nos quais ele fazia questão de preparar um banquete (e a gente ali só conversando, porque a cozinha era dele) e ter todos na mesa para compartir em família.

Isso tudo fica marcado em cada mensagem que recebemos dizendo o quanto ele era amoroso e querido com o próximo.

Sorte de todos que tiveram a oportunidade de conhecer o “Argentino” (como todos o chamavam), foram privilegiados, pois temos a certeza de que algumas pessoas não mereciam um ser humano como ele, pois não sabiam valorizar o seu enorme coração.

“Com o tempo, tudo se resolve” é o que muitos me dizem. O tempo resolve um desamor, um braço quebrado... mas uma vida perdida não dá para resolver. O carinho, o cuidado, o abraço que não teremos mais... não se resolvem. E é justamente por isso que dói tanto, porque nada substitui esse pedaço de vida que nos foi tirado.

Você foi um pai presente, sempre nos protegeu mesmo que a gente não entendesse, sempre pensou no melhor para todos. Era amoroso, carinhoso, atencioso, querido por onde passava, humilde, sonhador, trabalhador, prestativo; cansaço não existia quando o assunto era ajudar ou agradar. Podemos ficar aqui falando do que sentimos, do que as pessoas falam de você e, mesmo assim, nunca será o suficiente para você ser bem lembrado.

Entonces, só resta a saudade.

Te amamos mil milhões.

Luiz nasceu em Nova Iguaçu (RJ) e faleceu em Nova Iguaçu (RJ), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa Delia e pelos filhos de Luiz, Luiz, Clara e Jazmin. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Mateus Teixeira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 19 de outubro de 2020.