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Luiz Philippe Xavier Ramos

1989 - 2021

Foi de penetra da festa de aniversário daquela que seria o seu grande amor. Construía a felicidade no acaso.

O Luiz Philippe era chamado de muitas formas: Philippe, Philipinho, Pinho ou Pim. Era educado, alegre, altruísta, engraçado, esforçado, proativo, trabalhador, dedicado, amoroso, amigo. Não conseguia ver ninguém triste!

Conheceu Maíra, sua esposa, estudando na mesma escola e em séries diferentes, apesar de terem apenas seis meses de diferença de idade.

Na festa de aniversário de 15 anos dela, ele esteve presente, como penetra e, depois disso, ela passou a encontrá-lo com frequência no banco onde fazia serviços para seu pai e ele efetuava depósitos da casa lotérica em que trabalhava.

O tempo foi passando, a vida se modificando e Maíra não fazia mais esses serviços com tanta frequência e então passou a vê-lo apenas esporadicamente, até que no ano de 2006 seu irmão estreitou relações com Philippe, que passou a frequentar bastante a sua casa.

No fim desse mesmo ano os dois incentivaram a família a visitar um lugar que eles amavam, chamado Lapinha da Serra, um vilarejo pequeno, cheio de belezas naturais e cachoeiras, que ficava na região da Serra do Cipó.

Em janeiro de 2007, saíram em uma caravana de quatro carros em direção à Lapinha, numa viagem de 150 km, sendo parte deles em estrada de terra, e fizeram um verdadeiro rally, coroado pelo vislumbre de um paredão de pedra poderoso e imponente que chamava atenção na paisagem e se refletia no espelho d’água abaixo dele, devido à uma grande represa que havia ali.

O vilarejo era um lugar muito simples, cheio de casas de adobe. No centro havia uma capelinha linda e simpática onde aos fundos ficava o “orelhão”, que na época era o único meio de comunicação da região. Era realmente o paraíso que havia sido prometido.

Nesse paraíso o Luiz, que agora era Pim para os íntimos, teve todo o tempo e toda a oportunidade de conquistar a família com sua irreverência, alegria, um lindo sorriso constante, carinho, atenção e boa disposição e “bebendo todas” com a família!

E Maíra conta com saudades: “Como diz meu irmão, ele foi chegando devagarinho, comendo pelas beiradas, dando o bote dele em um por um, contando piadas, tocando pandeiro e cantando todas as músicas, guiando os passeios, fazendo churrasco, conversando com todos com uma atenção de admirar, do mais velho ao mais novo.

Em uma das últimas noites, nós fomos a um dos bares no centro do vilarejo curtir a noite de lá. O povo levou a tralha toda: violão, pandeiro e acordeom. O lugar estava vazio, mas só a nossa turma encheu o bar e, à medida que fomos tocando e cantando, mais e mais pessoas se agregavam à bagunça.

Estava muito bom e meus pais nos pediram pra voltar a casa pra pegar alguma coisa, nem lembro o que. Fomos eu, meu irmão e o Pim. Meu irmão saiu apressado na frente, como sempre, e o Pim, muito cavalheiro, foi mais devagar para me acompanhar e, no meio do caminho, acabamos nos beijando. Ele era lindo, além de todas as demais qualidades, e eu estava muito interessada e acabei “pegando” o amigo do meu irmão!”

Daí para a frente, eles passaram a se encontrar casualmente até o início do ano seguinte. Foi um período difícil porque ela já estava na metade do curso de engenharia e só tinham tempo de ficar mais tempo juntos durante as férias, mas oficializaram o namoro em abril de 2008.

Maíra conta que começaram a construir seu amor tijolinho por tijolinho apesar das diferenças que faziam lembrar a música Eduardo e Mônica: ela dedicada aos estudos e ele não estava muito interessado neles; ela caseira e ele festeiro.

E de diferença em diferença, mesmo sem uma paixão avassaladora de início, foram se conhecendo e se complementando ao saírem de sua zona de conforto. Ele a ajudou a ser menos tímida, a ensinou a se empolgar mais com viagens e aventuras e ela o incentivou a se concentrar mais, a se acalmar em momentos de ansiedade, a pensar mais no futuro, até que começou a fazer uma faculdade.

“Ele me fazia rir e chorar; em resumo, ele trouxe vida pra minha vida, que era meio morna e sem graça e eu por outro lado, o incentivei. Trabalhou, estudou e fez estágio. Ralou muito até se formar e conseguir um emprego na área. Se empenhou ainda mais para prosperar e construir carreira, sempre estudando e se atualizando.

Nós crescemos e amadurecemos juntos. Fizemos alguns sacrifícios para conseguir construir nossa relação, nossa casa e nossa carreira e, finalmente, quando as coisas atingiram um patamar estável e desejado, nos casamos em 19 de junho de 2019. Ainda estávamos em lua de mel quando a pandemia começou.

Ele era o amor em pessoa. Cuidou como ninguém da sua mãe e seus dois irmãos desde a adolescência, quando o pai faleceu, e cuidou tão bem de mim e da minha família durante os quatorze anos do nosso relacionamento.

O nosso amor foi a coisa mais sublime que eu conheci, e agradeço muito pela oportunidade de ter vivido quase metade da minha vida com alguém tão especial! Com certeza, o meu amor, não é só mais um número!”

Luiz nasceu em Vespasiano (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 32 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Luiz, Maíra Santana Diniz. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Vera Dias, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 25 de maio de 2022.