1955 - 2020
Era fácil reconhecer Luiz Rogério: ele estava sempre com uma fruta na mão.
Tinha um espírito jovem, fazia musculação, corria e pedalava. Sentiu orgulho enorme de uma entrevista pra televisão mostrando sua prática no Jiu-Jitsu após os 60 anos.
Luiz Rogério era o mais novo dentre os três irmãos Cristina e Paulo Sérgio. Com o falecimento dos pais, assumiu o papel de conselheiro da família. Isso porque era hábil em reverter os rumos das conversas complicadas com leveza e simpatia. "Meu pai ensinava a gente pelo exemplo. Ele se dava bem com todos; fazia amigos facilmente".
Natural de Resende, no Rio de Janeiro, Luiz Rogério gostava mesmo era de escapar para a tranquilidade de sua casa em Visconde de Mauá, terra natal dos pais. Rodeado pela natureza exuberante da cidadezinha, ficava horas à beira do rio, refletindo e tocando violão. "Quando se aposentou, ia para Mauá com mais frequência. Colocava canjiquinha e banana para os passarinhos todos os dias, e jamais os prendeu", revela Maiara. "Papai também saía para andar de bicicleta ou pegava a moto para explorar alguma cachoeira ou ribeirão, sempre tranquilo, comendo uma maçã".
Motorista de ambulância por quase toda a vida, Luiz Rogério não se deixava abater pelo estresse ou pela tristeza. Transportava pacientes com câncer em tratamento e não raro a família ouvir de alguém o quanto Luiz Rogério havia sido importante na batalha contra a doença. Maiara afirma que perdeu as contas de quantas vezes ele acolheu pessoas em casa, do quanto ele ajudava. "Meu pai sempre acalmava, conversava, orava e comprava remédios para os doentes. Às vezes nós éramos tomados pelo egoísmo, mas ele nunca”.
Por isso, a casa de Mauá vivia de portas abertas. Luiz Rogério convidava todo mundo que conhecia para visitá-la. "Existem rumores, diz Maiara, de que chegou a convocar os médicos e as enfermeiras que cuidaram dele para conhecer seu recanto na serra".
Casado com Sílvia, tiveram quatro filhos: Heliel, Michele, Helena e Maiara. Foi Sílvia quem evangelizou Luiz Rogério, no momento em que ele entrou para a igreja evangélica. Ficaram juntos desde então. "Na época do casamento, eram muito pobres. O pastor celebrou a união e deu a festa de presente", revela a caçula.
Rogério tinha uma relação maravilhosa com os filhos. "Ele tentava visitar a gente todos os dias, lembra Maiara, e se não conseguia, ligava para saber se a gente precisava de alguma coisa. E quando a gente aparecia na casa dele, corria à padaria para comprar pães e biscoitos como se ainda fôssemos crianças".
Pai coruja e avô devotado, Rogério era completamente louco pelos netos com quem conviveu: Samara, Emanuela, Gabriel, Ana Luiza e Luiz Guilherme. Fazia tudo por eles, assim como sempre fez pelos filhos. "Jogava bola, brincava de lutinha, de boneca, andava de bicicleta, levava para tomar sorvete. Ele tocava todas as músicas infantis para os netos mesmo se não soubesse tocá-las direito", ri Maiara. "Resumindo, ele fazia qualquer coisa que os netos quisessem, pois se tornava um garoto perto deles".
Maiara diz que o pai insistia para que ela lhe desse outro neto. "Descobri que estava grávida do Inácio dez dias após o falecimento dele". O neto Luiz Gustavo, filho de Heliel, também nasceu após a morte do avô.
Além de tocar violão, cantar, contar histórias, colocar comida para os passarinhos, ajudar as pessoas, andar de bicicleta, correr, convidar todo mundo para passar uns dias na sua casa na serra, tomar banho de rio, acender a lareira, acampar e se divertir, Luiz Rogério encontrava tempo para praticar a fé. Presbítero, não perdia os cultos e costumava dar carona aos irmãos mais humildes. "Meu pai gostava de tocar "Tua Infinita Graça", de Gerson Cardozo", pontua Maiara.
"Papai nunca tirava um tempo para si ou férias. Como trabalhava viajando, sempre que tinha um espaço na ambulância, me levava com ele. Foi assim que conheci o mar, um dos momentos mais marcantes da minha vida". Obrigada, pai!"
Luiz nasceu em Resende (RJ) e faleceu em Resende (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Luiz, Maiara Ribeiro Frech da Silva Nuernberg. Este tributo foi apurado por Daniel Ventura Damaceno, editado por Luciana Assunção, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 2 de março de 2022.