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Luiza Adalgiza Magalhães de Oliveira

1946 - 2020

Doce e serena, ensinou os sobrinhos a ler no quintal de casa. Gostava de jogar dominó com os netos.

Lembrar de Luiza é lembrar de uma mulher forte, corajosa e prestativa, que desde cedo aprendeu que a espera por algo pode ser motivo para perder muitas noites de sono. A espera era por notícias do marido, caixeiro-viajante que, numa de suas viagens de trabalho a Palmeira dos Índios, em Alagoas, se rendeu aos encantos de Luiza.

Ela foi responsável pela criação dos três filhos que teve com o caixeiro-viajante, que regressou a Vitória da Conquista, na Bahia, e nunca retornou. Em busca de notícias do amado, Luiza recorria às cartas de tarô para aliviar a agonia de saber do seu paradeiro.

Considerada por sua irmã, Azenita, a mais bonita e cortejada da casa, Luiza “era doce em seu falar, serena em suas ações”, relata a irmã. Muito religiosa, entendia que o dia era produtivo quando fazia suas orações e rezas. Da sala de casa ou dos seus aposentos era possível ouvir a reza fervorosa: “Ó minha Senhora e também minha Mãe, eu me ofereço inteiramente a Vós".

Filha dedicada, fazia questão de se ausentar da escola onde trabalhava para providenciar o suco do lanche da tarde para sua querida mãe. Azenita lembra que, sempre que fazia travessuras, era por Luiza que procurava.

O irmão Adenildo recorda-se da irmã como “a mais acolhedora, que sempre tomava para si as dores dos irmãos, fazendo de tudo para ajudá-los, seja com um conselho, uma ajuda financeira ou mesmo uma oração”.

Seu quintal era um ambiente de aprendizado. Lá ensinava os sobrinhos a ler e escrever no quadro a giz, além de ensiná-los a rezar. Já avó, sua alegria era jogar dominó com os netos. Adorava ouvir músicas sertanejas e se distrair fazendo caça-palavras. O pirão que preparava era uma iguaria para quem era convidado a experimentar.

Luiza era assídua nas festas de Nossa Senhora do Bom Conselho e São Sebastião, em Arapiraca, onde juntava as vizinhas e ia às novenas, em longas caminhadas, “mas com muita fé e alegria por estar na presença do Senhor”, relembram os familiares.

Luiza nasceu em Palmeira dos Índios (AL) e faleceu em Arapiraca (AL), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Luiza, Núbia Magalhães. Este texto foi apurado e escrito por Antonio Klebson Noberto Candido, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 12 de maio de 2021.