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Luzia Oliveira Santos

1935 - 2020

Dom era o apelido perfeito para ela, que possuía tantos talentos e qualidades voltados para a família.

A vida pode e deve ser vivida para o amor. Foi assim que a paulistana filha de imigrantes Luzia viveu.

Aos filhos? Tudo de melhor sempre! Não havia limites para transmitir o valor da boa educação e a importância de uma generosa atenção para com a necessidade dos mais carentes.

Dos sete filhos, Otto, Wagner, Célia, Midori, Marcela, Saulo e Tatiane (Tatinha), quatro vieram da amiga Amélia, que, passando por dificuldades financeiras, contou com o generoso auxílio de Luzia na criação dos filhos. No fim, as duas famílias amigas acabaram se transformando em uma única, constituída de sete irmãos, com o dobro de pais e o dobro de amor.

Dentre os filhos, coube à mais nova (a melhor comedora de bolinhos de chuva) lhe dar o apelido que passaria a acompanhá-la e pelo qual seria conhecida. Luzia passou a ser simplesmente Dom. Para ela, que possuía mesmo inúmeros dons, era o apelido perfeito!

A ligação entre as duas – Tatiana e Dom – era especialmente forte. Tanto que coube a essa filha indicar a localização de cada documento ou objeto quando já não residiam juntas.

As lembranças são muitas... Uma delas é de quando Dom não escondeu a alegria infantil ao receber do filho Otto uma linda boneca de porcelana, trazida da Irlanda.

Quando internada, “subornou” as enfermeiras e ligou para casa durante três dias seguidos. Impossível ficar sem ter notícias dos seus! Falou com o filho Wagner, o companheiro de sempre. À irmã Odete, bem como à sua parceira de maternidade, Amélia, pediu perdão pelos atritos: “Se nos desentendíamos, certamente não era eu e, sim, a dor pela artrose em meus joelhos. Vocês sabem o quanto isso me torturava...” Em seu coração, generoso e amplo, ainda coube muito amor pelas sobrinhas Célia, Andreia e Fátima.

Hoje, seus “meninos” e “meninas” buscam forças para continuar, amparados na certeza de terem sido muito amados. Esperam alcançar o momento em que a ausência doída e repentina seja substituída pela saudade calorosa e feliz das melhores recordações com essa mãe única e mais do que especial.

Luzia nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Luzia, Otto Santos. Este texto foi apurado e escrito por Cristina Magalhães, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 30 de maio de 2020.