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Luzia Rodrigues dos Santos

1945 - 2020

Sempre calma e sorridente, adorava viajar, conhecer pessoas e presentear quem ela amava.

As origens de Luzia foram bastante humildes. Por essa razão, quando tinha apenas 8 anos, foi entregue a casas de família para trabalhar como faxineira e assim se sustentar.

Desde novinha teve de encarar muitos desafios e situações que exigiram enorme força e resiliência. Sua trajetória de vida ajudou a definir a mulher que Luzia viria a se tornar e alguém enxergou isso: Pedro Pareja.

Casados, viveram juntos um conto de fadas. O marido proporcionava a ela uma vida de rainha, o que a permitiu deixar de trabalhar fora. Os dois se amavam, residiam em uma das áreas mais nobres de Goiânia e, em seu lar, criaram uma família que se tornou completa quando o casal adotou Leonardo. O mundo de Luzia era cuidar dos dois a quem tanto amava.

A vida tem suas reviravoltas, porém. O plano Collor levou praticamente tudo o que a família possuía. Seu Pedro sofreu um acidente de carro e não mais se recuperou, ficando impossibilitado de trabalhar como antes. Em pouco tempo, Luzia se viu diante de uma dura realidade que havia ficado no passado, contando com cestas básicas para alimentar a si, ao esposo e filho.

Em 1994, seu Pedro faleceu. Em 1996, Leonardo também deixou este mundo. Acontece que Luzia sempre lutou para viver e nunca desistiu de ser feliz e, à sua própria maneira, encontrou formas de lidar com perdas tão significativas e seguir em frente.

Como o filho Leo se foi cedo demais, Luzia não teve netos legítimos, mas isso não a impediu de ser avó de alguma forma. Tinha netas do coração: Ludimila e Priscila, filhas do sobrinho Temilson e de sua esposa Rose. Temilson era como um filho e, por isso, Luzia gostava de dizer que Rose era sua "nora preferida".

Além deles, Adriana também foi uma das pessoas a fazer companhia para dona Lu e testemunhar sua força. As duas se conheceram por causa de Leonardo e acabaram desenvolvendo "uma relação de mãe e filha, amigas mesmo, de confiar uma na outra".

É Adriana quem lembra que Luzia era uma mulher calma e sempre sorridente, que amava viajar, conhecer lugares e pessoas. Ela fazia excursões e cruzeiros pelas praias brasileiras, foi também para Argentina, Uruguai, Paraguai, França, Espanha e Portugal.

As duas não chegaram a viajar juntas, mas Luzia adorava presentear e trazia lembrancinhas das viagens. Adriana guarda com carinho um conjunto de sobremesa que ganhou de dona Lu quando fez 28 anos, e esta é apenas uma das memórias que aquecem seu coração.

Além de passarem o tempo vendo fotos de Leonardo, as duas estavam escrevendo um livro sobre ele, que Adriana decidiu terminar e publicar com várias fotos e fatos comprovados, como dona Lu queria. Elas também se divertiam assistindo a filmes juntas, sendo os filmes bíblicos alguns dos que Luzia mais gostava.

Luzia estava sempre agradecendo a Deus pela vida e não media esforços para ajudar os que precisavam. Era cuidadosa com as pessoas e também com suas plantas, que amava muito e com as quais se preocupava. Antes de partir, pediu que cuidassem de suas plantas.

Conhecendo bem esse lado de dona Lu, Adriana decidiu plantar em sua casa uma roseira em homenagem à amiga e "mãe", que sempre estará presente em seu coração e na essência das flores.

Luzia nasceu em Goiânia (GO) e faleceu em Aparecida de Goiânia (GO), aos 75 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela amiga de Luzia, Adriana Ripardo. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.