Sobre o Inumeráveis

Manoel Cirino dos Santos

1933 - 2021

Não media esforços nem distâncias se fosse para ajudar ou cuidar de quem amava.

Seu Mané, Sr. Manoel, Ariston, Pai, Avô, Tio, Cunhado, Esposo. Um metalúrgico que se aposentou trazendo ainda no corpo as marcas do trabalho na lavoura adquiridas quando era menino.

Estabeleceu-se em São Paulo, onde conheceu uma “Irmã de Maria” de nome Teresinha. Com ela se casou e permaneceu por cinquenta e dois anos. Teve dois filhos, três netos, cunhados e sobrinhos, pelos quais era encantado e dos quais cuidou quando precisaram.

Adorava estar com a família nos churrascos, estar na rede na casa da praia de seu cunhado, apreciar o pôr do Sol no mar. Gostava de andar de carro, de tomar um refrigerante em alguma mesinha de bar, de comer um lanche fora de casa e de sentar-se na ponta da mesa, que jamais será a mesma sem a sua presença.

Ensinou muitas lições de força em seu final de vida. Lutando com uma dor crônica, venceu o andador e ainda aprendeu a ser mais leve com seus netos, com os quais pôde brincar, além de cuidar. Nem o isolamento da pandemia abalou seu ânimo e mesmo com saudade da presença das pessoas queridas, continuava a brincar com todos, por meio das redes sociais, e seguia realizando suas tarefas.

Ele e a esposa se chamavam de Benhê, mesmo quando irritados um com o outro, e sua união foi demonstrada até quando tiveram que se internar juntos, por Covid-19. Felizmente, puderam ter a bênção de ser cuidados de forma especial por um de seus filhos, que trabalhava na linha de frente.

Nesse período, Seu Mané emocionou a família e a equipe do hospital quando, durante uma crise respiratória, foi capaz de vencer o tubo e reconhecer a esposa. Ao se despedir dela, que teve alta da UTI, ele ainda afirmava que queria cuidar de sua amada.

Ele partiu, mas antes chamou por seus netos, amou e foi amado, perdoou e foi perdoado. Lutou até o último segundo enquanto seu cansado corpo resistiu e, finalmente, descansou.

“Seu Mané deixa saudade e aprendizagens: ele nos ensinou a ter dignidade; a caminhar, mesmo que com dor; a seguir em frente com as tarefas da vida”, encerra o filho Fábio.

Manoel nasceu em Anadia (AL) e faleceu em São Paulo (SP), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Manoel, Fábio Souza dos Santos. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 3 de julho de 2023.