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Manoel Lima Santa Clara

1954 - 2021

O cara gente boa do Monza azul.

Francisco, um dos filhos de Manoel, homenageia o pai:

"Meu pai não era um cara famoso. Nunca realizou um feito extraordinário. Nunca foi político. Tinha muitos defeitos. A qualquer um que você perguntar, provavelmente irá te responder: 'Seu Manoel? O bebum do Monza azul?', mas pode ter certeza que logo em seguida você vai ouvir: 'Gente boa!'"

Ele conta que durante toda sua vida ouviu muitas críticas ao pai devido ao seu alcoolismo, mas que geralmente ele era o primeiro a ser procurado quando alguém precisava de alguma coisa, fosse dinheiro, remédio ou para acudir alguém que necessitava ser levado ao médico. Ele sempre dava um jeito de atender e, se não estivesse em condição de levar, muitas vezes ele até emprestava o carro para que alguém levasse. Ele sempre estava disposto a ajudar quem quer que fosse.

“Me lembro do Passat verde, me lembro do Corcel II branco e das várias vezes em que acordávamos cedo no domingo para ir à praia da Curva da Jurema, em Vitória. Ele não gostava muito de entrar na água, e eu adorava quando ele entrava porque ele era mais alto e era a única forma de eu ir no fundo. Sinto o cheiro do milho verde e do cachorro-quente que as vezes comíamos na praia.”

“Dormi algumas noites na esperança de sonhar com ele. Sonhar com os tempos em que ele chegava do trabalho e eu corria pra ele me pegar no colo. Me lembro que as vezes ele não podia, porque estava todo sujo de minério de ferro.

Com seu olhar adulto, o filho diz imaginar o quanto deve ter sido difícil para Manoel criar três filhos e recorda também que, apesar de não ter sido criado muito próximo dos avós, na adolescência, percebeu que eles estavam envelhecendo e procurava acompanhar o pai quando ia visitá-los.

Wescley diz agradecer muito a Deus porque sua sobrinha Larah teve a oportunidade de criar muita intimidade com seu pai, oportunidade que seus próprios filhos não tiveram. Conta que seu pai nunca deixou de se preocupar com os filhos e que, no dia em que seu filho completou dois anos, ele já estava de cama e cantou os parabéns do quarto, para não colocar a família em risco.

“Parabéns ao Yuri!”, ele gritou com a voz fraquinha. Esta é a última lembrança que ficou. “Tenho certeza que ele estará sempre entre nós. Muito obrigado meu pai por tudo que você fez por nós. Espero muito, muito, muito mesmo te ver novamente um dia!”, termina ele.

Manoel nasceu em Vitória (ES) e faleceu em Vitória (ES), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Manoel, Francisco de Assis de Oliveira Lima. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2022.