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Manoel Soares da Silva

1947 - 2020

Seu Manoel, um homem simples, de amor infinito. Seu legado, seu sorriso e simpatia nunca serão esquecidos.

Paraibano arretado, começou a trabalhar aos 8 anos de idade. Na época em que os filhos mais velhos ajudavam os pais a trazerem comida para casa, Manoel trabalhava em uma fazenda, junto com os irmãos. Ele se orgulhava muito em dizer que já naquele tempo, trabalhava muito e era independente. Desde criança, sempre foi muito decidido, batalhador e competente. Era um líder nato, e não aceitava que o trabalho fosse feito de qualquer maneira. Trabalho sempre foi sagrado.

Também gostava de festa e beber cachaça. Era namoradeiro e muito vaidoso. Casou-se com Leonia; tiveram a primeira filha que veio a falecer aos 3 meses devido a uma doença infecciosa. Tempo depois, tiveram outra menina, a Neide. O casamento não deu muito certo e eles se separaram.

Manoel tinha uma prima de segundo grau, Rosa, que mesmo sendo “casca grossa” não escondia o sentimento que tinha pelo nordestino. Aos poucos, os dois acabaram se envolvendo. A diferença de idade dos dois (13 anos) não foi empecilho para o amor florescer. Desse casamento, nasceram Mariana e Carla. As três filhas de Manoel eram seu maior orgulho.

O trabalho na lavoura foi trocado pela esperança de uma vida melhor em São Paulo. Nordestino, sem estudo, mas com muita vontade de trabalhar, rapidamente conseguiu trabalho de faxineiro em um prédio na região nobre de São Paulo. Morava em pensão. O dinheiro que ganhava dava pra se sustentar, ajudar seus pais e mandar dinheiro para sua filha, que deixara no Nordeste.

Mudou de trabalho, arrumou emprego no Condomínio Edifício Lago Azul. Em pouco tempo, foi de faxineiro a porteiro, e logo depois a zelador. A partir desse momento, ele saiu da pensão e passou a morar no prédio. O trabalho foi marcado por muito esforço, turnos dobrados e acúmulo de funções, mas ele conseguiu chegar onde almejava.

O Condomínio Edifício Lago Azul não foi só o trabalho dele. Foi o lugar onde ele criou suas filhas. No condomínio, Manoel recebeu muitos parentes que vieram do Nordeste para tentar a vida ou que estavam precisando de ajuda.

Passou Natais, aniversários e comemorações. Além da sua família de sangue, ele formou outra família: os moradores do Lago Azul. Viu pessoas nascerem, cresceram, casarem e constituírem suas famílias. Viu muita gente partir, esteve ao lado de alguns até o último minuto. Brincou com as crianças, orientou os adultos e cuidou dos idosos. Ele zelava pelo bem estar, segurança e felicidade de todos. Seu uniforme era seu manto. Seu sorriso, sua marca registrada.

Para os funcionários, ele sempre foi um exemplo, um pai. Para os condôminos, ele era um amigo, com quem podiam contar a qualquer hora.
Dona Bella, uma moradora do Condomínio, diz que Manoel era um homem justo, honesto, trabalhador, dedicado, honrado, correto, de princípios e querido por todos. Ele ensaiou por diversas vezes sua saída do prédio; no entanto, ela sempre foi postergada. Tinha muito orgulho de sua trajetória, das suas conquistas e principalmente, das relações afetivas que criou. O Lago azul não foi só o trabalho dele, foi sua vida.
Manoel sempre foi um pilar para sua família. Ao sinal de qualquer dificuldade, ele estava pronto a ajudar e resolver o problema, seja qual fosse.

Seus pais e seus sogros foram seus exemplos de vida, ele cuidou destes entes queridos até o último momento. A primeira vez que Carla viu o pai chorar foi no dia que avó Antônia faleceu. Ao saber da notícia, Manoel rapidamente conseguiu uma passagem para Paraíba a fim de se despedir de sua mãe e também de seu pai, que partiu poucas horas depois da companheira.

Família era seu bem maior. Um marido amoroso. Um grande pai, o melhor de todos. Vovô coruja. Dos oito filhos de Antônia e João, era ele o irmão mais prestativo e cuidadoso. O tio preferido das crianças e dos adultos também. Tinha muitos afilhados, por quem tinha amor de pai.

Nos últimos anos, a vida ensinou Manoel a se tonar uma pessoa mais sensível; ele passou a permitir que as lágrimas caíssem ao se emocionar, muitas vezes de alegria, ao compartilhar algum momento feliz com uma pessoa querida.

Ele amava a vida. Estava sempre sorrindo, acordava cedo para aproveitar o dia. Amava seu trabalho e amava os almoços, as festas e os finais de semana junto da família e dos amigos.

Os dias não são mais os mesmos sem Manoel. Seu "bom dia" faz falta aos moradores do Lago Azul, que olham para a guarita na esperança de encontrá-lo lá. Seus familiares sentem a falta das suas bênçãos e abraços. Seus amigos sentem falta das suas histórias e risadas. Ele fará muita falta. Seu Manoel nunca será esquecido e sempre será amado por todos.

Manoel nasceu em Cuité (PB) e faleceu em São Paulo (SP), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Manoel, Carla Souto da Silva. Este tributo foi apurado por Lila Gmeiner, editado por Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.