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Marcelo Araujo de Aguiar

1964 - 2020

Um bebê adulto que, com um coração maior do que seus quase dois metros, amava sem esperar nada em troca.

Marcelão era uma pessoa que parava a vida dele para ajudar quem quer que fosse. Não havia tempo ruim pra ele. Sair com a família e dirigir eram, sem sombra de dúvida, as maiores paixões do gigante Marcelo que, com seus 160 kg, metia-se dentro do carro e era sempre o motorista, seja por profissão ou para ir a qualquer destino que alguém o chamasse quando precisasse dele. Era a referência da família e deixou isso de "herança" para o filho.

Extremamente humilde e ingênuo, era um bebê grande e muito, muito amoroso.

Era um cara brincalhão e sempre dava um jeito de fazer graça, até com os próprios problemas. Tinha mania de inventar frases engraçadas, inclusive em situações difíceis — tudo para descontrair, tornar as coisas mais leves... "Mais fácil um jacaré pescando, do que um siri nadando", era uma de suas tiradas; isso quando não começava a falar tudo em "inglês", mesmo sem saber ao menos formar uma frase nessa língua, e era assim que ele costumava atender ao telefone, falando tudo em "inglês"!

Outra mania, ou melhor, um ponto fraco do grandão, era comer as coisas escondido. Bárbara, a irmã de Marcelo, conta que "uma vez ele teve a capacidade de furar a lata de leite condensado na parte de baixo para comer tudo e, depois, deixá-la de volta, vazia, no armário. Ele era demais!"

Marcelo era evangélico e estava com o coração em paz caso Deus o recolhesse. A própria filha falou isso ao vê-lo pela última vez no hospital. Já internado, dois dias antes de falecer, ele ainda fez amizade com a enfermeira e, com isso, conseguiu fazer uma chamada de vídeo ao pai, parabenizando-o pelo Dia dos Pais.

"Ele era temente a Deus e uma pessoa de coração tão bom que, certamente foi esse coração que o levou para a Glória do Senhor", diz Bárbara.

Não há dúvidas de que o céu festeja e que agora muitos podem rir com suas caretas, danças engraçadas e teorias mirabolantes.

Bárbara finaliza, emocionada, sua homenagem ao grande irmão: "Meu gordinho amado, que amava muito seu pai, seus filhos, sua esposa e todos que estavam a sua volta... Amar era fácil demais pra você e, para todos nós, era também fácil demais amar você. Graças a Deus abracei e beijei muito você, meu irmão!"



A filha Marcelly conta que tem várias recordações incríveis do pai, mas que existe uma, em especial, que sempre que a saudade bate forte, ela relembra com muito carinho:

"Eu sou um pássaro
Que vivo avoando
Vivo avoando
Sem nunca mais parar
Ai ai ai ai saudade
Não venha me matar
Ai ai ai ai saudade
Não venha me matar
Ai ai saudade
Não venha me matar
Ai ai ai ai saudade
Não venha me matar"

(Trecho de "Preta, Pretinha", Novos Baianos)

"Meu pai gostava de tocar violão, o instrumento havia sido dado pela mãe dele, que faleceu muito cedo, quando ele tinha uns 15 anos. Ele tocava algumas músicas e eu ouvia com muita atenção. Uma das canções que eu mais gostava era 'Preta, Pretinha', dos Novos Baianos, e ele sabia. Por isso, nem precisava pedir, ele certamente tocaria toda vez que começasse a dedilhar. Essas lembranças resgatam momentos da minha primeira infância, de quando voltava da escola e ele tocava para mim, mas também acompanhou nossas cantorias por toda nossa vida."

Marcelo era um homem brincalhão, bondoso e trabalhador, daqueles que não medem esforços para ajudar o próximo. "É, pai! O senhor não era grande apenas no tamanho, mas na generosidade e na humildade. Obrigada por tudo! Nossa família e amigos se orgulharão para sempre do homem que o senhor foi. Descanse na paz de Cristo. Te amo!", despede-se Marcelly com afeto.

Marcelo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela irmã e pela filha de Marcelo, Bárbara Fernandes Amorim de Aguiar e Marcelly de Souza Aguiar. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Lígia Franzin, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 18 de dezembro de 2020.