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Marcelo Henrique dos Santos Rocha Júnior

1991 - 2021

Acordava a esposa com um bom dia em japonês, sonhando tornar-se "streamer gamer" para milhares de seguidores.

Eles celebrariam bodas de açúcar ou de perfume em 2021. Mas agora, o silêncio e a saudade tomaram conta da casa do jovem casal. "Marcelo Júnior foi meu primeiro namorado. Nos conhecemos aos 15 anos e no dia seis de setembro de 2015, nos casamos. Eu disse que não ia chorar na cerimônia, porém, no altar, vi as lágrimas dele caindo e chorei junto. Um dia lindo, que guardo no coração", emociona-se a esposa Vanessa.

Carinhoso, dedicado e responsável, o carioca Marcelo também era uma pessoa bem-humorada. Vivia cantarolando sertanejo universitário e costumava puxar Vanessa para dançar no meio da sala. Tinha mania de dar bom-dia em japonês: "Ohayo!" Era fascinado pela cultura e pela comida japonesas.

Fã de animês e de tecnologia, Marcelo Henrique despertou na esposa a vontade de saber mais a respeito da Ásia. Vanessa apoiava o sonho do marido de ser reconhecido como "streamer": "Ele tinha um canal e, à noite, fazia vídeos sobre jogos. Queria ter milhares de seguidores".

Durante o dia, Marcelo trabalhava como motorista de aplicativo, o que lhe dava muito prazer, pois era apaixonado por direção e por automóveis. Uma de suas maiores conquistas foi comprar e dirigir o próprio carro. "Em fevereiro, fizemos nossa última viagem juntos, em comemoração ao meu aniversário. Ele guiava com todo o cuidado e dizia que ali estava levando o bem mais precioso dele: eu", relembra Vanessa.

Ao volante e com a esposa como navegadora, Marcelo descobriu muitas cidades e estados do Brasil. Conheceu São Paulo, Minas, Goiás, Florianópolis, Fortaleza, Foz do Iguaçu, fronteira da Argentina, fronteira do Paraguai, além das regiões serrana e dos lagos de seu estado natal. "Ele queria conhecer neve e a nossa lista de lugares para visitar ainda era vasta", ressalta Vanessa.

Outro grande sonho que ficou pelo caminho foi o de aumentar a família. Marcelo e Vanessa já eram "pais" do cachorro Juninho e do bichano Valente, e pretendiam engravidar nos 30 anos dos dois. Infelizmente, ambos contraíram o vírus aos 29. "Meu marido cuidava de mim. Enquanto eu tinha febre, ele não dormia. Velava meu sono e me dava forças: 'Você vai ficar boa!' Quando ele foi internado, meu mundo caiu. Orei demais para ele se recuperar. Eu e os nossos bichinhos aguardando a volta dele", recorda.

Marido devotado, Marcelo também era um filho zeloso, sempre presente na rotina dos próprios pais. "Um menino no corpo de um jovem adulto", define Vanessa. "Ele era o meu girassol. Trouxe muita luz, alegria, felicidade e estava ao meu lado nos momentos mais difíceis para mim, como no falecimento do meu pai e no da minha avó. Era ele quem me dava o maior incentivo: "Você consegue!", falava.

Com essa disposição e vontade de agradar, Marcelo era querido por onde passava. Acordava a esposa com o café da manhã pronto e lhe trazia doces após a jornada de trabalho. Inteligente e antenado com a vida contemporânea, rodava a Cidade Maravilhosa em animadas conversas sobre os mais variados assuntos com os passageiros, sem medir esforços para atender com simpatia e empatia.

Vanessa conta que um dia, um dos clientes do esposo esqueceu o celular dentro do carro. Marcelo fez de tudo para devolver o aparelho ao dono porque sabia que a mulher dele estava com câncer e ele não deveria ficar incomunicável por muito tempo. "Marcelo era assim: sempre pensava no próximo! Meu marido foi o meu anjo na Terra. Nós nos amamos de forma única e fomos felizes".

Marcelo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 29 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Marcelo, Vanessa Miguel da Silva Rocha. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Luciana Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 12 de setembro de 2021.