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Márcia dos Santos Amaral Pinto

1948 - 2020

Muito culta, ensinou aos seus filhos e alunos o apreço pela leitura.

Dona Márcia ou Tia Márcia como era chamada por muitos, foi uma professora de português que não admitia duas coisas na vida: os erros na fala e ser chamada de senhora, porque segundo ela, a "senhora está no céu e eu não sou velha para ser chamada assim".

Como professora na Escola Morumbi, cresceu e passou por muitas coisas. Conheceu muitos famosos, engravidou de Carlos Augusto e deixou o emprego para cuidar dele como mãe solo.

A vida seguiu assim até ela conhecer Carlos Roberto, o amor de sua vida e pai de Carol, irmanando um amor lindo de se ver. O seu amor foi se estendendo e se modificando com cada geração que chegava. Foi assim quando Carol se casou e lhe deu o neto Henrico que se tornou o grande amor e alvo dos seus mimos até o último momento. Depois vieram os bisnetos.

Márcia além de incrível, era muito culta e ensinou aos seus filhos o amor à leitura. Tinha conhecimento sobre todos tipos de assuntos que lhe fossem perguntados. Generosa, ajudava a quem precisasse não importando a quem fosse.

Ela amava uma curtição: ouvir samba de raiz, tomar suas bebidas, fumar seu cigarro e, enfim, aproveitar a vida ao seu modo. Eclética, ela sabia dizer palavras lindas e reconfortantes, mas sabia também xingar todo mundo e soltar seus palavrões que a tornavam mais engraçada ainda.

As histórias antigas que contava tornava todos mais conectadas a ela. Ela dizia que Pelé, o Rei do Futebol, foi apaixonado por ela e que costumava beber com a cantora Alcione. Fazia piada com tudo, até com seu próprio sobrenome.

Henrico, o neto, contrariando a crença de que não se deve contar os pedidos feitos às estrelas cadentes, segredou à mãe Carol que mesmo sabendo que seu desejo não iria se realizar, quando visse uma estrela cadente iria pedir para ter a “vó Márcia” de volta.

Márcia será lembrada com o orgulho que tinha de sua cor negra, de sua origem nordestina, de seu cabelo black power, de sua pele lisa, de suas roupas exóticas, elementos estes que todos juntos a tornavam linda.

Esta era Tia Márcia, um anjo que viveu para cuidar, uma mulher que merece ser conhecida e que, por isso, fez sua filha decidir-se a contar um pouco dela para o mundo, bem como os desejos que possui para com seu destino: “Brilha aí do céu porque você é assim: você é luz, você é amor e eu te amo infinitamente de todo o meu coração. Um dia estaremos juntas novamente passeando de mãos dadas como sempre fizemos... Se cuida e cuida de nós”.

Márcia nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 71 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Márcia, Carolina Amaral do Nascimento Costa. Este tributo foi apurado por Thaíssa Parente, editado por Vera Dias, revisado por W. Barros Dantas Paniagua e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2021.