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Marcos Antônio de Carvalho Sá

1979 - 2020

Deixou de herança, ao filho que não pôde conhecer, o nome que carregava de gerações.

De seu avô e pai, Marcos herdou o nome Antônio. Para o filho que partiu sem conhecer, Bento Antônio, repassou a tradição. Tão sonhado quanto a primeira filha, Eduarda Helena, Bento é o segundo fruto da união de Marcos e Daniele, sua companheira por quase 20 anos.

“Amoroso e dedicado, cuidou de sua esposa gestante, filha e de seus pais idosos até o dia de adoecer”, conta Daniele.

Adorava viajar com a família, colecionou muitas aventuras em todas elas. Era admirado pelos bolos e as receitas improvisadas que fazia e, segundo ele, o segredo para tanto sucesso era o amor que usava como tempero.

Conhecido por ser um homem trabalhador, se reinventou após a falência de seu comércio, desempenhando até o fim os ofícios de marceneiro, projetista e montador. Deixa também o legado de uma jornada baseada na honestidade e muita fé.

Descrito como um pai de excelência pela filha, foi um homem que gostava de corrida de rua, jogar tribal, estudar gramática e matemática. Cheio de sonhos e expectativas, incentivou a filha a ingressar na faculdade de Enfermagem para que ela viesse a exercer o papel do cuidado que ele tanto demonstrou pela sua família enquanto viveu.

Os sonhos imaginados em família agora seguem sendo realizados, movidos pela força que Marcos deixou enquanto esteve presente iluminando a todos com sua perseverança.

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Marcos Antônio carregava o segundo nome como herança do avô e do pai, repassando-a ao filho Bento Antônio. Era marceneiro e projetista por profissão, reinventando-se como um bom brasileiro.

Carioca, era apaixonado por corridas de rua e por jogar Tribal Wars nas horas vagas. Parte de seu tempo era dedicado ao estudo da gramática e, principalmente, da matemática, curso que havia iniciado. Marcos era prestativo e sempre topava qualquer aventura, como quando foi de carro para a Argentina com a esposa, Daniele.

E o que dizer dela? Era o amor de sua vida, completariam duas décadas juntos. Viajavam sempre que podiam; numa dessas viagens, com passagem pela Argentina, divertiram-se muito e deram muitas risadas por estarem perdidos e sem GPS. As doces memórias de companheirismo seguem frescas na memória de Daniele. Marcos preparou todo o roteiro da viagem, tudo de forma muito organizada.

Uma pessoa divertida, que adorava viajar, curioso e dedicado com a família. Um pai e um filho coruja que muito amou e cuidou dos seus pais, honrando cada momento em que precisaram de ajuda.

Eduarda, sua filha, diz que o pai foi “Um homem carinhoso e prestativo. Uma das pessoas mais incríveis que pude conhecer. Meu maior cúmplice! Desde as advertências na escola até os passeios pela cidade. Toda hora falava que eu enchia o saco dele dizendo 'pai', mas com sua paciência de Jó, escutava minhas perturbações. Essa é uma das coisas que mais me alegram, pois consegui aproveitar o máximo, mesmo querendo ter aproveitado ainda mais e mais."

E a filha continua: "Era um homem multifuncional, mesmo demorando décadas para terminar as coisas, como nossa parede de gesso que deixou pintada pela metade, fazendo com que o sofá tapasse o serviço inacabado. Um companheiro mais que demais, não só para mim, mas para todas as pessoas que conviveram com ele. Sempre muito honesto e bom, que às vezes dava raiva do jeito que se aproveitavam dele. Mas é um dos meus maiores amores e irei compartilhar todo esse amor que meu pai tinha por mim para o meu irmão”. Eduarda ainda se recorda do olhar do pai quando dançaram a valsa na festa de debutante, foi um dos momentos mais felizes da vida deles.

E assim, na certeza de que foi um filho, marido e pai por completo, Marcos parte sabendo que deixou como herança um amor incondicional que será repassado ao pequeno Bento através de histórias que ilustrem a pessoa incrível e leve que foi. Um homem digno que se doava por inteiro aos desafios da vida e que hoje descansa sabendo que, no coração dos que cativou, seguirá sendo o amor de suas vidas.

Marcos nasceu em Nova Iguaçu (RJ) e faleceu em Nova Iguaçu (RJ), aos 40 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa e pela filha de Marcos, Daniele Nascimento e Eduarda. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia e Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 6 de março de 2021.