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Marcos de Oliveira

1969 - 2021

Comunicativo, dizia ser tão popular quanto a antiga nota de um real. Aonde quer que fosse, achava um conhecido.

Marcos foi o penúltimo filho entre sete irmãos. A mãe, Irene, dedicou a vida a cuidar dos filhos; o pai, Antônio, era metalúrgico. Aos 14 anos, por incentivo do pai, Marcos entrou em um curso do Senai, formando-se eletricista, profissão que abraçou e trilhou fazendo longa carreira.

Se na adolescência ele teve o primeiro contato com a formação profissional, foi nessa época também que encontrou o amor de sua vida: Patrícia, a “baixinha”, como ele a chamava. “Nós nos conhecemos na adolescência, morávamos na mesma rua. Ele era amigo do meu irmão e vinha em casa com a desculpa de falar com ele, mas a verdade é que queria me ver”, recorda Patrícia. Trocaram olhares, algumas palavras, até que um dia, em uma balada, “dançávamos juntinhos, até que rolou um beijo e começamos a namorar; eu com 14 e ele com 16 anos”, diz ela. No aniversário de 15 anos da Baixinha, a valsa foi com Marcos. Casaram-se quatro anos depois, ao saberem da gravidez do primogênito, Marcos Vinicius, que levou muita alegria a toda família. “Depois vieram Leonardo e Letícia, e também tivemos a Leandra, que Deus recolheu e hoje devem estar juntos lá no céu”, ressalta.

Marcos sempre teve muito orgulho dos filhos. “Ele demostrava isso falando incansavelmente das qualidades de cada filho a todos que o cercavam. Seus olhos brilhavam quando falava deles”, conta Patrícia. À esposa, com quem foi casado por trinta anos, costumava dizer: “Não sou ninguém sem você...” Ele torcia muito pelo casamento de um dos filhos. “Além da festa, que ele amava, Marcos torcia muito mesmo pela chegada dos netos”, diz a esposa.

Marcos sempre colocou a família em primeiro lugar. Preocupava-se muito e queria proporcionar o melhor para o bem-estar e felicidade de todos. Quando chegava em casa, costumava adiantar o jantar fazendo o arroz e o feijão. “Ah, e o feijão era delicioso, ninguém faz um feijão como ele fazia”, relembra Patrícia.

Comunicativo, cativante, tinha facilidade para fazer amizades; sua marca registrada era ser alegre e alegrar as pessoas ao seu redor. Conseguia animar qualquer roda de conversa com suas piadas. E se tinha um assunto que mexia com ele, era o Corinthians, time do coração. Corinthiano "roxo”, como Patrícia diz, ele não perdia uma partida, assistindo pela TV ou, quando podia, indo aos estádios onde o time jogasse. “Como se não bastasse assistir aos jogos, ele adorava discutir a partida com os amigos de times adversários e defendia com muita propriedade, e também com unhas e dentes, o time do coração”, relata a esposa. Nos dias de jogos, era comum reunir amigos, fazer festa e comemorar gols soltando fogos.

Viveu intensamente os 51 anos de vida. Tinha espírito jovem, como ele mesmo dizia. Gostava de dançar, festejar, reunir pessoas, fazer um churrasquinho e não abria mão de tomar diariamente sua "purinha". “Fazia e dizia tudo o que tinha vontade. Os amigos dos filhos diziam que queriam que seus pais fossem como ele. Amava as pessoas e não tinha vergonha de falar 'eu te amo' pra quem quer que fosse“, conta a companheira. Como ele amava fotografia, não perdia a oportunidade de registrar todos os momentos felizes. “Difícil encontrar uma pessoa amiga que não tenha uma foto com ele”.

"Na infância, era chamado pelo apelido de Zoreia. Ele não gostava muito, não. Aí, quando um amigo o apelidou de Zozô, ele ficou feliz. Dali pra frente, Zozô virou um codinome..."

Marcos, o Zozô, deixou um legado de coração puro, bondoso e cheio de humildade. “Por ele ser como era, temos certeza que sua partida para o plano espiritual aconteceu exatamente como foi revelado em oração: após uma conversa sigilosa que teve com Deus, garantindo que sua família ficaria bem, ele se entregou e um anjo veio para fazer as honras e encaminhá-lo ao encontro de seus amados entes queridos — onde hoje, certamente, desfruta da vida eterna”, resume a esposa.

O marido de Patrícia, o pai de Marcos Vinícius, Leonardo, Leticia e Leandra, a caçula falecida, partiu em um momento emblemático para a família: no dia em que o primogênito completou 30 anos. Para a esposa, apesar de toda dor, talvez Marcos tenha escolhido este dia para que também fosse um dia de festejo, um dia de alegria, e não de tristeza pela sua partida. Um dia para ser eternamente lembrado.

Marcos nasceu em São Caetano do Sul (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 51 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela esposa de Marcos, Patrícia Maria Jurado de Oliveira. Este tributo foi apurado por Patrícia Coelho de Souza, editado por Patrícia Coelho de Souza, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 21 de fevereiro de 2022.