1947 - 2020
Mãezinha era generosidade, gostava de ouvir “Ai de ti, Copacabana” e divertia-se com os filmes de Liam Neeson.
Alda nasceu no Espírito Santo, mas viveu a maior parte da vida no Rio de Janeiro, onde os filhos nasceram. Trabalhou como empregada doméstica por muito tempo e, em um desses trabalhos, na casa de um ator, conheceu Alceu Valença. Esse encontro é lembrado até hoje pelos familiares. Enquanto Alda lavava louça e conversavam, o cantor lhe perguntou qual música dele era a sua preferida. Ela não teve dúvidas: “Ai de ti, Copacabana”, respondeu. Então, Alceu, como que atendendo a um pedido de fã, cantou para ela.
A linda canção, inspirada no poema de Rubem Braga, fala de uma Copacabana com todos os elementos de religiosidade, pessoas, natureza e tem o mar de Copacabana como cenário, onde toda a história se passa. O mar, que era apreciado por Alda, mas que, pela distância e pelo sol forte na maior parte do ano, não tinha tanto o hábito de frequentar.
Para os netos, Alda era apenas “mãezinha”, como os ensinou carinhosamente a chamá-la em homenagem ao apelido da própria mãe. "Ser mãezinha é mais que ser avó, tem quase status de anjo", concordam os dois netos. Mesmo morando próximos, foi difícil para os integrantes da família não estarem juntos durante o período de isolamento social. Mantiveram o distanciamento físico, mas os telefonemas e as videochamadas foram utilizados para diminuir a saudade.
Alda, que foi mãe de Rogéria, Wesley e Welington; teve dois netos e estava aguardando ansiosamente a chegada da netinha Mariana, filha de Wesley. A família estava sempre por perto, o que ajudava nesse convívio.
Alda era fã do ator Liam Neeson. Com auxílio da neta Suzana, aprendeu rapidinho a buscar na internet por fotos dele e, num canal de streaming, conseguia encontrar os filmes estrelados pelo ídolo. "Ela assistia à todas as produções com Neeson pelo tablet", comenta a filha Rogéria. A paixão pelo ator era tamanha que o filho caçula, Wellington, que morava com ela, batizou uma gatinha que adotou como "Natasha", em homenagem à esposa de Liam. Impossível não se lembrar da atuação do ator em “A Lista de Schindler” que quase lhe rendeu um Oscar. Assim como o personagem interpretado pelo ídolo, Alda era uma pessoa muito generosa e gostava demais de ajudar. Alguns anos de sua vida foram dedicados a auxiliar pessoas a conseguirem o benefício da aposentadoria, orientando-as sobre documentos e procedimentos necessários, como agendamentos no INSS. Essa ação específica aconteceu durante a época em que trabalhou em um escritório de contabilidade, trazendo humanidade a um ambiente que, em geral, é de muitos números e poucas palavras.
Em relação às palavras, expressava-se de forma sincera e verdadeira, tendo seu próprio e autêntico jeito de ser. Era a maior parte do tempo uma pessoa otimista e bem-humorada e que gostava de viver. Mas, se a pessoa fosse muito abusada, ficava irritada. Sua paciência era bem curtinha também para quem fosse intrometido e fofoqueiro. Para finalizar, não gostava quando era chamada de Maria, tinha que ser só Alda mesmo, e pronto!
Alda andava com dificuldades de locomoção e a neta Suzana sugeriu que ela usasse uma bengala, ela aceitou a ideia e a neta ainda brincou: “Mãezinha, essa bengala vai ajudar a senhora e ainda pode servir para cutucar no tio”. As duas riram e Alda até gostou da ideia, divertindo-se com a sugestão inusitada da neta.
Alda deixa muitas saudades e sua lembrança estará para sempre registrada nos versos de sua canção preferida:
"Então mergulho no meu sonho absurdo
Entre carros, conchas, búzios
Entre os peixinhos do mar
Lembro Caymmi, Rubem Braga, João de Barro
E sigo no itinerário da princesinha do mar
No mar
Oh, oh, no mar..."
Maria nasceu em Cachoeiro de Itapemirim (ES) e faleceu em Nova Iguaçu (RJ), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Maria, Rogéria Ferreira Ramos Atouguia Thompson. Este tributo foi apurado por Hélida Matta, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 14 de fevereiro de 2021.