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Maria Amélia Freitas do Carmo

1943 - 2020

Melhor amiga da Bené, amava a família e camarão. Não atendia ligações na hora de suas sagradas novelas.

Amelinha gostava de casa cheia. Às vezes, convocava festas ou confraternizações, mas nada espalhafatoso. Tradicional, não queria nada muito grande. Convidava apenas os amigos mais íntimos e a família. Comemorava os aniversários, Natal, Dia das Mães... Gostava de escutar elogios a sua comida, sempre deliciosa. As conversas sempre começavam à mesa da cozinha. Amelinha amava camarão e carne de porco.

Adorava novelas. No horário das produções da Globo, ninguém podia ligar para ela! Apesar disso, era grudada na melhor amiga, Benedita, com quem mantinha amizade de longos 27 anos. Quando não estavam penduradas ao telefone, estavam de papo pessoalmente, uma na casa da outra. Eram tão grudadas, que certa vez um ex-namorado de Benedita foi até sua casa aos prantos pedir a Amelinha que intercedesse pelo relacionamento dos dois. A dona da casa contou à amiga, entre gargalhadas: “poxa Bené, ninguém nunca chorou por mim!” As duas passavam a tarde tomando cafezinho e os encontros invadiam a noite com sorrisos e desabafos.

A casa de Amelinha era um porto seguro para todos. Era muito dedicada com seu lar. Caprichosa, o “aconchego” estava sempre perfumado e repleto de flores e plantas.

Amava a família e sempre orava por todos. Sorria e torcia muito pelo sucesso dos familiares, vibrava com suas conquistas. Queria todos felizes e prósperos. Tinha carinho especial pela filha de coração Sandrinha e pela neta Lary, além de se derreter toda ao falar do sobrinho Luciano.

Amelinha deixou uma casa vazia e uma família cheia de tristeza. O tempero agora tem gosto de saudade, e no porto seguro já não se serve o café da tarde. Benedita não pôde se despedir da melhor amiga, mas tem fé de que ela está bem agora, ao lado de Deus. Ela presta uma última homenagem à companheira de longos anos, lhe dedicando este refrão:

"...Seja o que vier (seja o que vier)

Venha o que vier (venha o que vier)

Qualquer dia, amigo, eu volto

A te encontrar

Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar..."

Maria nasceu em Aracaju (SE) e faleceu em Salvador (BA), aos 77 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela amiga de Maria, Benedita Costa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bárbara Aparecida Alves Queiroz, revisado por Daniel Schulze e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.