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Maria Antonia Alves da Silveira

1954 - 2021

Amava incondicionalmente os filhos, para quem era um exemplo de como lidar com os percalços da vida.

Maria Antônia tinha 12 anos quando deixou sua cidade natal, juntamente com os irmãos, em busca de oportunidades de trabalho. Uma vez em São Paulo, logo se tornou empregada doméstica. Apesar da infância humilde, em Jenipapo de Minas, ela demonstrava saudade de casa pelo amor que havia lá. Recordava-se do quanto seus pais eram trabalhadores e da alegria que trazia ao lar a notícia de que receberia mais uma criança; embora, infortunadamente, muitos de seus irmãos tenham falecido ainda pequenos.

Após anos vivendo em terras paulistas e embora já não preservasse o sotaque mineiro, nunca se esqueceu de como preparar quitandas, mantendo o costume de fazer deliciosos biscoitos de polvilho e pães de queijo.

Foi casada com Dimas, um mineiro que conheceu em São Paulo por intermédio de parentes, e foi devido a uma transferência de trabalho do marido que, por volta dos 30 anos, ela mudou-se para Santos, onde passou a viver. Foi uma esposa extremamente digna e dedicada.

Maria Antônia teve três filhos, Ariadnei, Herbert e Misaelle, e foi uma mãe excepcional, como nenhuma outra no mundo. Amava crianças e possuía um amor incondicional pelos seus três bebês, como ela os chamava. “Era protetora na medida certa: éramos muito amados e nos sentíamos aconchegados pelos seus cuidados, mas sempre nos deixou livres para seguirmos o nosso caminho.”

“Em casa, sempre estávamos rindo juntos. Sua vida girava em torno dos filhos e o tempo todo dedicava-se a fazer algo para o nosso bem-estar”, conta a filha mais velha, que não cansava de admirá-la e a descreve como muito bonita e habitualmente tão discreta, que quem a visse não imaginava que ali se escondia uma mulher extremamente divertida.

Maria Antônia trabalhou grande parte de sua vida como faxineira, serviço que proveu o sustento da família. Perfeccionista ao extremo, era impecável na organização e limpeza das casas em que trabalhava, não deixando escapar nenhum detalhe. A maior parte de sua casa foi construída com o dinheiro que recebia pelo seu trabalho, e durante toda a construção mantinha-se sempre presente, recebendo os pedreiros e comprando os materiais necessários. Quando a casa ficou pronta ela ficou imensamente feliz pela conquista!

Também sabia costurar e, esporadicamente, fazia consertos de roupa para complementar a renda familiar. Nas horas vagas, gostava de assistir a novelas e, a seu lado, uma simples conversa se tornava especial.

Depois de algumas adversidades e provações impostas pela vida, Maria Antônia se aproximou verdadeiramente de Deus e a fé que mantinha no Altíssimo tornou-se um refúgio. Aos poucos, esse encontro foi ficando tão intenso, que a sua existência só fazia sentido se o Senhor estivesse no centro de tudo. Lutou bravamente contra as doenças que a acometeram ao longo dos anos, com muita fé, e as muitas perdas na família fizeram dela uma fortaleza! “Uma serva de Deus, que amava jejuar e orar nas madrugadas”, diz a filha.

Por ser evangélica, gostava bastante de escutar louvores. Entre os seus preferidos está "Lindo És” interpretada e composta por Juliano Son, cuja letra diz: "Me leva a sala do trono, mostra Tua beleza. Quero ver Tua face, Deus"!

Dedicava-se, voluntariamente, às atividades da Igreja que frequentava: fez parte do Ministério Infantil e era bastante ativa em diversos setores. Certamente, em seus últimos dias, Deus se fez presente e a honrou a cada instante.

A filha, Ariadnei, que trabalha como Assistente Social, conta: “Eu me interesso bastante pelos assuntos que, de forma geral, acontecem no mundo. Ela, apesar da pouca instrução, gostava de escutar o que eu tinha a dizer. Então, percebia o seu interesse genuíno em ouvir, tentando compreender o que estávamos conversando e emitindo uma opinião sobre os temas”.

“Era inteligente, apesar do pouco estudo e com um posicionamento crítico. Tímida, mas bastante sociável. Ela era muito engraçadinha, criava diversas piadas. Entre as lembranças mais marcantes está o jeitinho dela, que era único e gracioso. Eu sempre me recordo do quanto ela gostava de ovos e asas de frango.”

Para encerrar, a filha fala da admiração que sentia pela mãe: “O modo como minha mãe lidou com os percalços da vida é o maior ensinamento deixado: em quaisquer circunstâncias, ela sempre agia com coragem e perseverança”.

“Como éramos o que ela tinha de mais precioso na Terra, todos os nossos sonhos eram os dela. A verdade é que a sua razão de viver era a plena realização dos filhos. Uma pequena notável, que nunca iremos esquecer”.

“Te amamos mãe!”

Maria nasceu em Jenipapo de Minas (MG) e faleceu em Santos (SP), aos 66 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Maria, Ariadinei Alves da Silveira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por - e moderado por Ana Macarini em 6 de julho de 2023.