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Maria Aparecida da Cruz

1964 - 2021

De suas mãos, saía o melhor feijão tropeiro da região - unanimidade na família, amigos e até na igreja.

Maria Aparecida, a Cida, foi sinônimo de alegria, risadas e amor. A sobrinha Lorraine, “criada como filha”, como ela conta, lembra que Cida tinha uma voz de aconchego, carinho e calmaria. Nascida e criada no estado de Goiás, Cida foi elo da família. “Por onde passou, vida afora, juntou amigos e família, deixando saudades em muitos, muitos corações”, diz Lorraine, quando relembra a vida da tia.

Cida Cruz saiu da roça, onde nasceu, ainda criança. Ao lado dos irmãos, viveu uma infância típica do interior, com muitas brincadeiras, especialmente ao lado de Antônio. Outra referência, entre os cinco filhos, era Elsa, com quem dividiu muitos momentos da vida, incluindo a moradia, já adultas. Elas iam à igreja, ao mercado, às lojas, saíam para comer... Eram tão amigas, viviam tão “grudadas”, que a impressão era de que “não existia tia Elsa e tia Cida separadas”, destaca Lorraine. Cida frequentou a escola até a sexta série.

Ela não casou e não teve filhos. Pela proximidade com os irmãos, sempre esteve muito presente na criação dos sobrinhos Jonathas, Luiza e Lorraine e também dos sobrinhos netos filhos de Jonathas, o Carlos Augusto, de 5 anos , e o Eduardo Augusto, de 2 anos, que a chamava de Didi. Lorraine conta que a tia desempenhou com muito amor, afeto e presença, a função de babá, fosse dela e dos irmãos, ou dos sobrinhos Carlos Augusto e Eduardo Augusto. “Carlos a apelidou, carinhosamente, de Didi e o apelido pegou. Era a nossa Didi, e nós temos amor de mãe por ela, por causa da criação tão próxima”, destaca a sobrinha.

O afeto que Cida sempre dedicou às pessoas da família e amigos também levou para os pratos que fazia. O feijão tropeiro de ocasiões especiais era famoso. “Deve ser porque ela transbordava amor quando cozinhava. Sempre reunimos a família para comer algo de gostoso que ela fizesse. Ela sabia exatamente o prato preferido e o jeito que cada um gostava da comida”, relembra Lorraine.

Maria Aparecida, Cida, a Didi das crianças, sempre teve uma leveza e simpatia sem igual, todos eram apaixonados pela sua companhia. Não tinha um dia sequer que reuniam e ela não estava lá toda sorridente, contando coisas e brincando com os meninos. Nas horas vagas, o que ela gostava de fazer eram os tapetes e o tricô, sem nunca esquecer do prazer da cozinha. “Tinha a fama de ‘mão boa’ e honrou esse adjetivo. Fazia doces, salgados, pratos para o almoço, carnes assadas e sempre se arriscava em alguma receita nova que via na internet”, conta a sobrinha que homenageia a tia em nome da família.

Hoje, em meio à ausência, a família e os amigos revivem o legado que Cida deixou: Paciência, amor, respeito ao próximo e, principalmente, amizade. Tanto que outro apelido dado a ela no decorrer da vida foi “Amizade”, devido ao fato de fazer amigos em todos os locais que ia. Conciliadora, não brigava com ninguém e quando algum desentendimento acontecia em família, Cida ouvia, conversava e fazia a reconciliação acontecer.

A irmã, tia e tia avó tinha “um abraço tão bom e um ombro tão aconchegante, e nós adorávamos abraçá-la com força”, recorda Lorraine, destacando o desejo de que Cida seja lembrada pela alegria que transbordava, pela união que cultivou em família, pela leveza com que levava a vida, sem se estressar ou brigar por problemas pequenos.

Maria nasceu em Rialma (GO) e faleceu em Anápolis (GO), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido Sobrinha. Criada como filha. de Maria, Lorraine Vieira Cruz. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Bettina Florenzano e moderado por Rayane Urani em 20 de abril de 2022.