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Maria Aparecida Pires Caetano

1941 - 2020

Conhecida como "a mulher dos cachorros", ela alimentava vários animais em frente à sua casa, diariamente.

Treze filhos, treze netos, onze bisnetos, dois cachorros dentro de casa — Joelminha e Betovem —, dezenas à porta aguardando um agrado e mais um único e longevo amor: o marido, José Paulo. Na vida da cearense Maria Aparecida, tudo era farto: coração generoso para cuidar de sua família, de suas plantas e dos cãezinhos de rua.

Casada por sessenta anos, foi esposa dedicada e ciumenta, como revela a neta Adrielle: "Nunca se deixaram. Ela tinha ciúmes dele desde a juventude. Vovó era muito carinhosa e alegre, cuidava da casa e dos animais e principalmente do meu avô, que agora vai ao cemitério todos os dias".

De tão apaixonada pelo marido, o maior sonho de Aparecida era casar-se novamente com José Paulo. Mas dessa vez seria de véu e grinalda, na igreja de Acaraú, cidade onde nasceu, se criou e se casou, novinha. "Vovó garantia que o ciúme do marido iria aumentar ainda mais após a confirmação dos votos matrimoniais. A gente dava muita risada com as histórias dela", relembra a neta.

Batalhadora e fiel à sua família e à sua fé, Aparecida era vaidosa. Andava sempre arrumada, tinha muitas joias e roupas no armário as quais nem sequer a etiqueta tirou. Também não perdia a oportunidade de dançar forró. "Vovó se dava bem com todo mundo, era adorável e alegre", conta Adrielle.

Como toda avó, o xodó de Aparecida eram os netos Adriano, Ana Cherly, Adrielle, João Kennedy, Samara, Marcelo, Bruna, Lucas, Augusto, Tatiana, Josiane, João Pedro e Josivânia. A dona de casa colecionava bonecas e ursos de pelúcia e a eles dava os mesmos nomes dos netos. Paparicar os bisnetos nos encontros familiares de fim de ano também estava entre as atividades mais aguardadas pela acarauense, que tinha orgulho de ver toda a descendência reunida para celebrar a chegada de um novo ano.

"Vovó Aparecida não era muito fã da hora do banho, não", confessa a neta, sorrindo. E, assim, com leveza, Adrielle vai guardar as recordações da avó "carinhosa, atenciosa e feliz como só ela sabia ser".

Maria nasceu em Acaraú (CE) e faleceu em Sobral (CE), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Adrielle Pires. Este tributo foi apurado por Rafaela Teodoro Alves, editado por Luciana Assunção, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 7 de setembro de 2021.