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Maria Conceição de Jesus

1920 - 2020

Um doce de vovó que adorava conversar com muito afeto e alegria.

Maria Conceição era uma mulher de fibra. Como típica mineira, era reconhecida por suas aventuras na cozinha e pelo tempero característico de casa de vó. Lembrar dos seus salgadinhos e da asinha de frango recheada que ela fazia aquece o coração da família ao se lembrar dela.

Trabalhou como cozinheira e costureira para criar seus filhos: Bárbara, Tereza, Ida, Joaquim, José, Catarina, Adão, João, Irene, Antônia, Benedito, Luzia, Sebastião, Graça, Silvana, André, Antônio e Carlos Alberto. Como a família era grande, adorava visitar seus filhos e netos, e se orgulhava da maneira especial com que cada um tinha construído sua vida.

No seu tempo livre, adorava fazer crochê, pescar e viajar. Muito comunicativa, precisava de apenas dez minutos de conversa para fazer amizade e encantar a vida de uma pessoa que acabou de conhecer.

A neta Cláudia, usando as mais belas palavras, escreve uma homenagem à essa senhora tão querida e amada: " "Nossa alma, como pássaro, escapou do laço que lhe armara o caçador”. Quero com estas palavras, homenagear uma mulher de fibra, guerreira, que não deixou esse sorriso de lado em nenhum momento da sua longa vida. A idade sempre foi uma confusão, oficialmente 100 anos, mas ela sempre nos dizia que foi registrada com dois anos a mais para poder se casar aos 14 anos. Casamento que rendeu muitos frutos: 21 filhos, não sei quantos netos, já tentamos contar e é difícil, acho que próximo de 80, muitos bisnetos e tataranetos. Em 1920 e 1922 viveu em períodos de guerra, viu pessoas nascerem, enterrou filhos, viverem muito e morrerem, viu muitas mudanças no mundo, muitos estilos de vida nascerem e ficarem pelo caminho. Trabalhou muito além da aposentadoria, foi uma mulher extremamente independente. Sempre com esse sorriso fácil e gostoso, e falava... falava... falava, meu Deus, como falava. A gente se divertia com as histórias, a vó começa contar uma história e ia te seguindo, você podia ir ao banheiro, fazer janta que ela estava ali, firme contando a história, sempre tinha várias, e de falar umas bobeiras, sem pudores bobos. Sim, nós todos sabíamos que ela não ficaria aqui para sempre, que como todos nós um dia sua jornada na terra se encerraria. Mas um dia todos nós vamos nos encontrar, a vida é breve, queria ter dado um abraço em todos, não deu, mas sintam-se abraçados. Grata pelo carinho de todos. Vozinha, nos veremos novamente. Que bela jornada Dona Maria!”

Guerreira e independente, deixou um legado de superação, resistência e afeto. Era muito presente com a família, sabia reconhecer em cada membro da família suas peculiaridades, qualidades e gostos.

Maria nunca tratou uma pessoa sequer com um mero número, e, no coração dos que cativou, jamais será considerada como tal. Como descrito pela neta, que linda jornada, dona Maria. Que a senhora continue sendo exemplo e inspiração para as próximas gerações da família que construiu.

Maria nasceu em Santa Rita do Sapucaí (MG) e faleceu em Campinas (SP), aos 100 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Cláudia Fillipi. Este texto foi apurado e escrito por Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Mateus Teixeira e moderado por Rayane Urani em 31 de dezembro de 2020.