Sobre o Inumeráveis

Maria da Conceição Coelho

1956 - 2020

Na maternidade em que ela trabalhou, cada bebê que recebeu seu colo saiu de lá abençoado por seu amor.

Carta aberta escrita pela neta Natacha em homenagem à sua amada avó:

Maria da Conceição Coelho de Freitas, a mulher mais guerreira que já conheci na minha vida e não é pelo fato de ela ser a minha avó , é pela história de vida, por ter passado por tanta coisa, por ter lutado tanto e por saber que um vírus tão invasivo a levou de todos nós.

Minha avó era uma pessoa de personalidade fortíssima, era aquela que fazia de tudo para agradar os netos, fazia o prato predileto de cada um, deixava a gente sempre com gostinho de quero mais. Era aquela que dava risada alta, era um escândalo nos almoços em família, para brigar era a mesma coisa.

As comidas que ela fazia com tanto amor com as receitas que pegava na televisão, ela reproduzia e levava para as meninas do seu plantão, e todos ficavam com água na boca sempre, sempre querendo repetir, só mais um pedacinho.

Ela era a auxiliar de enfermagem mais íntegra que eu já conheci, não chegava atrasada, não faltava, vivia para a Maternidade, cada bebezinho que ela deu banho ela sabia, cada teste do pezinho que ela colheu ela sabia.

No parto do seu bisneto foi o dia em que eu pude ver a minha avó sorrir mais que em qualquer outro; foi o dia mais incrível de nossas vidas. Ela fazia de tudo pro seu bisneto, viagens, presentes, festas e tudo o que ele pedia.

Na maternidade ela foi muito amada pelos colegas de trabalho, pelas médicas, pelos médicos, eu diria que por todo mundo. Todos tem uma lembrança positiva dela e isso é gratificante demais.

Com meu avô ela vivia brigando; mas, no final, ela sempre gritava: Paixão! Isso era a coisa mais fofa! Um chamar o outro de "Paixão!", afinal foram mais de 30 anos juntos e foram felizes demais.

A casa na praia a qual ela sempre quis ter na sua aposentadoria, ela conseguiu ter. Reformou e fez a casa mais aconchegante que conseguiu. Lá os netos aproveitaram muito e sempre. Nós vamos dar continuidade, mas jamais será a mesma coisa.

Quem vai ligar pra falar que pegou uma receitinha nova e vai fazer pra testar? A saudade dói, fere a alma!

A realidade é que é muito difícil escrever algo de alguém tão importante nas nossas vidas, ela deixou de ser a filha, a mãe, a avó, a bisavó, a esposa, a amiga, conselheira, a confidente de muita gente, deixou de me mandar os áudios de cinco minutos, deixou de fazer as ligações de vídeo.

Eu jamais conseguiria escrever todos os nossos momentos especiais aqui, daria uma novela, daria pra escrever um livro até! Eu só tenho a agradecer por ter sido a sua neta mais louca do mundo.

Saudades de ti.
Gratidão.
Amamos você.

Maria nasceu em Santa Rita de Ouro Preto (MG) e faleceu em São Paulo (SP), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Maria, Natacha Lima Oliveira. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ana Macarini, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.