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Maria da Conceição Gomes Pinheiro

1951 - 2021

Enderaçava generosidade e cuidado aos garotos em situação de rua e mimava os netos com agrados e presentinhos.

Dona Maria aprendeu a cuidar das pessoas na infância. A mãe dela ficou viúva, com quatro filhas. E, entre a responsabilidade de ajudar a criar as irmãs e a alegria da infância, ela escolhia ambas. Lavar roupa no açude não se restringia ao afazer doméstico. Maria e as irmãs Sandra, Raimunda, Aparecida e Orelina se esbaldavam com brincadeiras.

A manauara ainda constituiu uma grande família. Eram quatro filhos: Sônia, Tema, Téo e Ted. Téo partiu quase junto com a mãe, vítima de Covid-19 também.

Ela teve vários netos. Não se contentou com os biológicos, acolheu alguns em seu grande coração. Também recebeu a mãe da primeira neta, Larissa, como a própria filha em casa. Deu todo apoio de que ela precisava.

Aos sete anos, a mãe de Larissa e a menina saíram da casa da dona Maria. “Foi muito difícil ficar longe dela, era minha avó, mas também era mãe. Para ela também não foi fácil, era muito babona”, lembrou a neta.

Como avó, ela reunia as características típicas e maravilhosas desse papel. Não deixava faltar doce, fazia todas as vontades dos netos. Aniversários eram motivos de celebrar a vida dos seus, a casa ficava lotada e ela amava. Chegou a realizar a festa de 15 anos da neta caçula.

Sempre estudou bastante, fez curso de corte e costura e de técnica em Enfermagem, profissão que exerceu no SUS como servidora pública. Para os familiares, era mais do que o cargo dizia. “Minha vó foi nossa médica, ela conseguia dar um jeito em qualquer doença”, contou Larissa.

Nem as dores no joelho a impediam de bater perna no centro da cidade, um dos seus passatempos preferidos. E, claro, incluía uma forma de demonstrar seu amor pela família. Enchia as sacolas de compras, raramente com algo para ela. Arrumava até portador para transportar os presentes para os sobrinhos e netas que moravam em Fortaleza, no Ceará.

A fé era outra característica marcante. Contribuía na cozinha - com sua comida maravilhosa - preparando delícias para os integrantes do acampamento religioso e sua presença era certa na Igreja Batista semanalmente. Era fácil ver que era uma mulher de Deus com seus atos. Ajudava todos, até meninos que os outros diziam não ter boa índole. Não ouvia, pedia que eles lavassem o quintal em troca de um dinheirinho. Recebeu muito respeito dos garotos em retribuição.

Para a família que ela tanto amou e amigos, deixou lembranças sem fim, inspiração para a forma como vivem.

Maria nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Maria, Larissa Borges. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Talita Camargos, revisado por Fabiana Colturato Aidar e moderado por Ana Macarini em 15 de dezembro de 2023.